Título: DINHEIRO IA DIRETO PARA DIRIGENTES¿
Autor: Ana Paula de Carvalho
Fonte: O Globo, 24/11/2006, O País, p. 5

Doações em espécie eram recolhidas e depositadas em contas pessoais

CURITIBA. Marcus Vinícius Michelotto, delegado que chefiou as operações contra as ONGs irregulares, disse que o grupo agia desde 2002, e usava o telemarketing para angariar as doações que seriam destinadas aos doentes com câncer sem ter vínculo com nenhuma instituição dessa natureza. Para a cobrança das doações, que variavam de R$5 a R$50, foi criada uma empresa com sede em Joinville (SC), que mandava um motoboy buscar o dinheiro do doador.

¿ O dinheiro ia direto dos doadores, que são milhares no país, para as contas bancárias pessoais dos dirigentes, já que a maior parte das doações era feita em dinheiro ¿ disse ele.

Para disfarçar o desvio, a quadrilha direcionava cerca de 10% do valor arrecadado para compra de cestas básicas e despesas e outros 30% para despesas operacionais, justificando a existência das ONGs. Os funcionários não eram registrados, sendo pagos ¿às escuras¿.

¿ Temos provas de que foram feitos financiamentos de veículos importados para João César Chiquetto, que mora em Curitiba, braço direito de Waldemar Braz, responsável pelas finanças do grupo, cujas operações contábeis eram feitas em São Bernardo do Campo (SP).

O secretário de Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, criticou a concessão, em alguns estados, documento de Utilidade Pública para que as ONGs operassem, com isenção de impostos.

¿ Nas investigações, elas funcionavam sem a autorização legal ¿ afirmou.

Mas em muitos estados as ONGs conseguiram o número de Utilidade Pública para operar mesmo com irregularidades na documentação.

¿ O poder público tem que ter mais atenção para conceder esse documento. Estamos encaminhando ao Ministério Público Federal em São Paulo toda a documentação apreendida para que essas ONGs sejam extintas ¿ disse Delazari.

Em Curitiba, a Câmara Municipal autorizou a concessão do documento, que foi negado pela Procuradoria da capital paranaense e, mais tarde, concedido pelo então prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi (PFL).

Os acusados serão indiciados por crimes de peculato, formação de quadrilha e enriquecimento ilícito, cuja pena pode variar de 3 a 15 anos de prisão. O Ministério Público Federal pode propor ação civil pública para extinguir juridicamente a GAPC e a Abrapec.

¿ O esquema envolve estados onde não foi deflagrada a operação, como Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Paraíba e o Distrito Federal, mas acabando com o cabeça o restante não sobrevive ¿ disse o delegado Marcus Vinícius Michelotto.

Delazari afirma, porém, que as pessoas precisam ¿separar o joio do trigo¿. E aconselha:

¿ As pessoas devem fazer doações com cheque cruzado e nominal ¿ afirmou.