Título: EUA: é a Ásia que importa
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Globo, 23/11/2006, Economia, p. B8

É um círculo virtuoso. A propósito, quanto ao Brasil, oportunos, os chineses importam matérias-primas e exportam para nós produtos industrializados fabricados com nossa matéria-prima. O couro é um caso clamoroso, seguido de artefatos de madeira e tecidos. Só que os outros agem, nós ficamos nas inúteis querelas diplomáticas.

AMÉRICAS PESAM POUCO

Nesse cenário comercial, as Américas Central e do Sul representam pouco para os EUA e a Europa. Apenas 5,9% das exportações americanas e, acreditem, 1,3% das européias. Podem até ser politicamente sensíveis pela proximidade, mas são economicamente marginais. O Brasil mesmo pesa pouco mais de 1% das vendas americanas. Estamos no fim da fila, isolados em nós mesmos, sem nenhum acordo bilateral importante com quem quer que seja, se não contarmos o fracionado Mercosul. Pesamos pouco, também pouco mais de 1% no comércio mundial e, em conseqüência, não temos voz mais ativa nas negociações multilaterais. Somos especialistas em convocar reuniões inúteis entre os grupos do 'ges' e formar blocos inviáveis.

CHILE E MÉXICO

As únicas exceções inteligentes de acordos já operativos são México, Chile e alguns países pequenos da América Central.

Na verdade, o único país importante em termos comerciais é o México, que absorve 8% das exportações americanas, no âmbito do tratado trilateral com os Estados Unidos e o Canadá no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, pelas iniciais em inglês). Em toda a América Latina, só isso. Nada mais.

ORA, A VENEZUELA...

A negociadora americana não toca no assunto Venezuela. Mas a coluna se pergunta, e a Venezuela em face dos Estados Unidos? E nós? O generalíssimo coronel Hugo Chávez faz muito barulho político, agride, sempre que pode, os Estados Unidos o 'diabo' do Bush que cheira enxofre, mas exporta 80% do seu petróleo para o mercado americano... E isso porque é um petróleo pesado,de baixa qualidade, preço menor, e as refinarias especiais que podem processá-lo estão nos Estados Unidos. Chávez sabe disso, razão pela qual suas ameaças e grosserias com relação ao presidente americano ficam no âmbito da verborragia inconseqüente. Em termos comerciais, nada mais. 'Te odeio mas preciso de ti ou, melhor, te odeio porque preciso de ti...'

VENEZUELA NÃO É IMPORTANTE

Para o Brasil, a Venezuela também não deveria ser importante, pois tem apenas petróleo pesado que também nós temos. Ela é um incômodo. Infelizmente, o presidente Lula não entende isso, ou, se entende, não liga, aproxima-se de Chávez, vira palanqueiro e se afasta dos Estados Unidos e da Europa. Só que agora não precisa se afastar, pois eles é que nos viraram as costas. Não precisam de nós, têm outras preocupações geopolíticas e econômicas e outros mercados mais promissores.

Ficamos assim sendo o 'patinho feio', até mesmo em relação à União Européia, cujos empresários não vêm com bons olhos, se afastam das agitações antiimperialistas de Chávez.

E aí está o novo cenário. Os Estados Unidos e a Europa voltam-se cada vez mais para a Ásia e ficam esperando que a América Latina acorde, atraia investimentos diretos e cresça. Eles não esperam, não têm tempo a perder, como nós. Nunca seremos, é lógico, um mercado como a Ásia, mas também não teríamos de ficar na desprezível posição em que estamos. O triste é que não fazemos nada.