Título: VIRGÍLIO: ÉTICA É O PONTO DE PARTIDA
Autor: Cristiane Jungblut, Gerson Camarotti e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 24/11/2006, O País, p. 9

Líder tucano diz não acreditar que Lula possa repetir erros do 1º mandato

BRASÍLIA. Há cinco dias sendo obrigado a explicar a carona que pegou no avião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na volta do enterro do colega Ramez Tebet, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), subiu ontem à tribuna e avisou que qualquer conversa com o governo federal tem como ponto de partido o respeito à ética. Na véspera, o presidente nacional de seu partido, senador Tasso Jereissati (CE), já avisara que as margens de negociação num eventual diálogo com o governo Lula são limitadas.

¿ O diálogo começa por respeito à ética. Não posso imaginar que passe pela cabeça do presidente Lula repetir, neste governo de quatro anos que tem pela frente, o que vimos de escândalos, a desmoralizar a imagem do Brasil e os poderes públicos constituídos na nossa terra. Não posso imaginar isso ¿ observou o senador tucano.

Virgílio repetiu mais uma vez as explicações que já havia dado ao próprio partido sobre o convite que aceitou para voltar de Três Lagoas (MS) a Brasília com Lula. No trajeto feito, não no Aerolula mas no chamado ¿Sucatinha¿, ele disse ter tido um diálogo civilizado com o presidente. Disse estar espantado com algumas reações a isso, o que, na sua opinião, expõe ainda um certo ranço do regime autoritário, período em que quase tudo era visto de maneira maniqueísta ¿pela qual o que está do meu lado é bom, o que está do outro lado é mau¿.

¿Nunca me recusei a entendimentos¿

Para o líder tucano, a democracia pressupõe o diálogo entre as diferentes correntes políticas:

¿ As pessoas que me vêem falar da tribuna de forma enfática podem imaginar que não sou homem de diálogo. Todos aqui sabem que isso é falso. Nunca me recusei a entendimentos, aqui, tanto que votamos tudo no Senado.

O tucano deixou claro, contudo, que a abertura de um eventual canal de diálogo com o governo não levará a oposição a contemporizar com eventuais deslizes do Executivo.

¿ Agora não me peçam para falar em corrupção e em inépcia administrativa com sorriso nos lábios ¿ avisou.

Sobre o aceno de Lula para uma possível conversa com a oposição, feito ontem novamente, Virgílio ressaltou que antes de formalizar qualquer convite o presidente deveria apresentar uma agenda concreta.

¿ Se o presidente Lula tem uma agenda, acredito que não só o meu partido, mas outros também não se recusarão a conversar. Se não tem, por que conversar? ¿ acrescentou.