Título: ABEL NEGA LIGAÇÃO COM BARJAS NA CPI
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 24/11/2006, O País, p. 11

Empresário diz não ter envolvimento com sanguessugas, mas não convence

BRASÍLIA. O empresário paulista Abel Pereira negou ontem, em depoimento à CPI dos Sanguessugas, envolvimento com a máfia das ambulâncias, mas não convenceu os integrantes da comissão. Durante quase três horas, o empresário descartou ligação com o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, e os empresários de Mato Grosso Darci e Luiz Vedoin, chefes do esquema.

Abel Pereira negou cobrar propinas para a liberação de verbas do Ministério da Saúde. Segundo os Vedoin, Abel pedia de 3,5% a 6% de valores empenhado e conseguia a liberação porque era amigo de Barjas.

¿ Ele não explicou ¿ disse Fernando Gabeira (PV-RJ).

Abel afirmou que soube, no inquérito, da existência de cheques das empresas de Vedoin, que têm no verso a inscrição ¿pagos ao senhor Abel¿:

¿ Desconheço. Talvez ele (Vedoin) quisesse levantar dinheiro com isso. Mas é falso. Eu não tinha relações com Barjas.

A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), tentou provar que havia ligação entre Abel e Barjas. Disse que entre 18 e 23 de dezembro de 2002 (quando Barjas era ministro) foram pagos R$3,2 milhões em emendas do Ministério da Saúde para 30 municípios do Mato Grosso. E que os cheques que Vedoin disse ter pago a Abel por liberar as verbas somam R$183 mil, 6% do total liberado.

¿ A declaração de Vedoin está documentada e o senhor tinha muita influência para liberar este dinheiro em quatro dias. Não é à toa que ele o procurou para vender o dossiê aos tucanos ¿ argumentou Ideli.

Apesar da acusação, feita anteontem pelo ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, o nome do governador eleito de São Paulo, José Serra, não foi mencionado. Segundo Expedito, Vedoin lhe disse que os 15 cheques dados a Abel em troca da liberação de recursos da Saúde na gestão Serra foram usados para pagar dívidas da campanha à Presidência em 2002.

¿ Acho que todos consideram que o ex-ministro não está envolvido nisso ¿ disse o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).

Abel se contradisse ao negar sua ligação com Barjas, que admitiu conhecê-lo.

¿ Eu conhecia, mas não tinha contato. Tive mais contato na campanha dele para prefeito ¿ disse Abel, que doou R$15 mil para a campanha de Barjas.

Segundo ele, a audiência que marcou com Barjas e o prefeito de Jaciara, Valdizete Nogueira, entre 11 e 14 de julho de 2002, aconteceu porque o então ministro atendia a todos de Piracicaba. Após a audiência, foram liberados R$500 mil para a construção de um hospital no município e a empresa Cicat Construtora, de propriedade de Abel, venceu a licitação para a obra.

O tucano apresentou levantamento que mostra que Abel, de dezembro de 2002 e julho de 2003, ligou 19 vezes para a empresa Planam, dos Vedoin.

¿ Me recordo de ter falado com Vedoin uma ou duas vezes. Não lembro ¿ disse.