Título: MERCADANTE COMPROMETE AMIGOS `ALOPRADOS¿
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 24/11/2006, O País, p. 11

Senador: Osvaldo Bargas e Jorge Lorenzetti tinham informações sobre ligação de Abel Pereira com sanguessugas

BRASÍLIA. Em depoimento à Polícia Federal ontem, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) acabou complicando a situação do ex-secretário do Trabalho Osvaldo Bargas, seu amigo, e um dos ¿aloprados¿ envolvidos na compra do dossiê contra tucanos. Anteontem, diante da CPI dos Sanguessugas, Bargas afirmou que desconhecia o teor do suposto dossiê e que sua participação no episódio resumiu-se a acompanhar a entrevista que os Vedoin deram à revista ¿IstoÉ¿, em Cuiabá. Mas Mercadante revelou ontem que, no dia 4 de setembro, foi procurado por Bargas, que disse ter informações sobre a atuação do empresário Abel Pereira junto à máfia dos sanguessugas.

Mercadante contou à PF que Bargas estava acompanhado de Jorge Lorenzetti e da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). O senador afirmou que os dois se mostraram ¿indignados¿ com os ataques aos quais o ex-ministro da Saúde Humberto Costa estava sendo submetido por conta do escândalo dos sanguessugas e achavam que o PT tinha de revidar.

Segundo o senador petista, a intenção dos dois era utilizar o depoimento de Luiz Antônio Vedoin, que estava marcado para o dia 5 de setembro no Conselho de Ética do Senado, para pressioná-lo a falar sobre Abel Pereira, empresário amigo de Barjas Negri, ex-ministro da Saúde acusado de liberar recursos para a Planam, dos Vedoin.

¿- Eles disseram que não tinham material, mas só informações sobre o Abel Pereira ¿- afirmou Mercadante em seu depoimento, ressalvando que Lorenzetti era quem mais falava.

O senador disse que desaconselhou os companheiros a utilizarem o Conselho de Ética como trincheira e, apesar das informações dos Vedoin supostamente comprometerem seu adversário político, Mercadante afirmou que não quis saber de detalhes.

Como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador paulista disse que não sabia de nada da operação de compra do dossiê que levou à prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha no dia 15 de setembro. Ele admitiu conhecer Lorenzetti, mas negou que tenha conversado com ele durante a negociação da compra do dossiê. Disse desconhecer Gedimar e Valdebran.

Mercadante procurou reduzir a função de Hamilton Lacerda em sua campanha. A PF atribui a ele a entrega de R$1,7 milhão ao ex-policial Gedimar Passos no Hotel Íbis, em São Paulo. O dinheiro seria utilizado para compra do dossiê.

¿- Ele nunca foi responsável pelos contatos com a imprensa, muito menos uma matéria desta gravidade ¿- declarou Mercadante a respeito do contato que Lacerda manteve com a revista ¿IstoÉ¿ para a publicação da entrevista dos Vedoin na qual acusaram José Serra, governador eleito em São Paulo, de favorecer a máfia das ambulâncias com a liberação de recursos.

¿ A função de Hamilton Lacerda era acompanhar os programas de TV, juntamente com o vereador paulistano José Américo (PT), além de coordenar a campanha na região do ABC paulista ¿- descreveu.

O senador também destacou que Lacerda não mexia com recursos financeiros.

¿ O responsável pela parte financeira de minha campanha era o José Giacomo Baccarin. Os contatos para arrecadação eram feitos por mim e por Baccarin somente ¿- esclareceu Mercadante, que prestou depoimento em seu gabinete, por ter foro privilegiado e poder marcar hora e local de inquirição policial.