Título: Megaempresa.com
Autor: Ronaldo D"Ercole
Fonte: O Globo, 24/11/2006, Economia, p. 29

Fusão entre Americanas.com e Submarino cria companhia de R$ 2 bi de olho no exterior

A Americanas.com e o Submarino, maiores lojas de vendas pela internet do país, anunciaram ontem a fusão de suas operações para enfrentar o avanço das grandes redes do varejo tradicional e, também, investir em mercados internacionais. O negócio, que ainda depende da aprovação dos acionistas do Submarino, resultará na criação da B2W Companhia Global de Varejo, que nascerá com receitas anuais de mais de R$2 bilhões e valor de mercado de R$6,5 bilhões.

- Eles querem ser grandes, ter escala para ter preços competitivos, pois seus fornecedores são os mesmos de redes como o Ponto Frio, Casas Bahia, Pão de Açúcar e Wal-Mart - disse o executivo de um banco que participou do negócio.

Embora cresça a taxas de 40% ao ano, o comércio eletrônico deve movimentar pouco mais de R$4 bilhões este ano no Brasil, 2% apenas das vendas totais do varejo brasileiro. Além das vendas pela internet, a B2W deve valer-se outros canais de venda, em que a Lojas Americanas já atua, como o Shoptime (com TV), para enfrentar as grandes redes.

- Esse movimento é estratégico e nós temos obrigação de procurar bons negócios para nossos acionistas - disse o presidente do Submarino, Flavio Jansen.

O Submarino ingressou em abril no Novo Mercado, com a pulverização de ações na Bolsa de Valores de São Paulo. Como não tem mais controladores, a proposta de fusão com a Americanas.com será analisada em assembléias de acionistas no próximo mês. A expectativa é de que as duas empresas passem a operar como B2W já a partir de janeiro de 2007.

- Estamos criando uma grande companhia, com receitas de US$1 bilhão e enorme potencial de crescimento - disse o diretor de Relações com Investidores da Americanas.com, Roberto Martins, ao justificar seu otimismo.

Segundo Martins, países latino-americanos em que o comércio eletrônico tem grande potencial, como México, e emergentes de outros continentes, como a Índia, são mercados de interesse da nova empresa.

- As oportunidades internacionais hoje são muito efetivas e temos que aproveitar nossos conhecimentos nos canais em que atuamos - confirma Jansen, que deve dividir a direção da B2W com Anna Saicali, que preside a Americanas.com.

Pela proposta, a Lojas Americanas S.A (Lasa), controladora da Americanas.com, passará a deter 53,25% do capital total da B2W. Os acionistas do Submarino ficariam com 46,75%.

Além da aprovação dos acionistas, a transação também precisa passar pelo crivo do Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, uma vez que com a fusão surgirá uma empresa com mais de 50% das vendas do varejo online do país.

Na prática, esta será a segunda operação de fusão envolvendo companhias abertas no país em que uma delas não tem controlador. Na anterior, a Sadia propôs, em oferta hostil, incorporar a Perdigão, mas o negócio não prosperou. Agora, a fusão resultou de consenso entre os dirigentes das duas empresas.

A Lojas Americanas S.A. é controlada por um trio de financistas: Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. À frente do banco Garantia, ou da GP Investimentos, os três lideraram operações como a fusão da Antarctica com a Brahma, que resultou na criação da AmBev, e mais recentemente sua união com belga Interbrew (InBev).

As ações ordinárias (com direito a voto) do Submarino subiram ontem 15,80%, cotadas a R$60,80, após abrirem em alta de 20% no pregão da Bolsa de São Paulo. Já as ações preferenciais das Americanas caíram 8,25%, fechando a R$100. Na abertura, a alta chegou a ser de 6,4%.

Segundo Daniella Marques, gestora de renda variável da Mercatto Gestão de Recursos, o mercado não reagiu bem à falta de informações:

- Enquanto os acionistas da Americanas.com ficam sem informação, os do Submarino receberão um belo prêmio (R$500 milhões em dividendos antecipados) na operação.

Nos últimos 30 dias, as ações do Submarino subiram 54%, contra 8,86% do Ibovespa.

- Tudo indica que houve vazamento (de informações) - disse o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Trindade. A CVM abriu investigação.

COLABORARAM Ana Cecília Santos e Patricia Eloy

Trio nada virtual

Bilionários donos da Americanas criaram Submarino

SÃO PAULO. A fusão entre os dois lojas virtuais do país é mais uma jogada de mestre de três magos do mundo corporativo brasileiro. Criadores do Submarino quando ainda dirigiam a GP Investimentos, no final dos anos 1990, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles haviam saído do negócio em 2003. Nesse meio tempo, como controladores das Lojas Americanas S.A., fizeram da Americanas.com a maior concorrente do Submarino. E, agora, juntam as duas empresas numa terceira, a B2W, que vale R$6,5 bilhões.

Para os analistas, essa última tacada sinaliza que o trio, que há alguns anos integra a lista de bilionários brasileiros da revista "Forbes", pode sair do negócio mais adiante, pulverizando o capital das Lojas Americanas.

Eles hoje têm 19,3% do capital total da Lasa, que passará a deter 53,25% da B2W. Com a maior visibilidade que o negócio vem ganhando, e o seu fortalecimento no mercado varejista brasileiro, a tendência é de valorização maior da empresa.

- Eles estão fazendo de tudo para que o mercado veja as Lojas Americanas como um grande competidor - diz um analista do setor. (Ronaldo D'Ercole)

APESAR DA FUSÃO, MERCADO PREVÊ QUE CONCORRÊNCIA DEVE CONTINUAR ACIRRADA, na página 30