Título: PSDB: o prumo e o discurso
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 25/11/2006, O GLOBO, p. 2

O PSDB começa a procurar o discurso, a conduta e a calibragem oposicionista adequados à conjuntura em curso. Nela, mais do que a força do presidente Lula, destaca-se o nascente alinhamento entre o PT, um PMDB singularmente mais unido e partidos menores que, juntos, podem ¿ se a experiência da coalizão for bem-sucedida ¿ tornar-se um bloco hegemônico e uma ameaça ao projeto tucano de retorno ao poder central.

É sintomática a escolha do ex-presidente Fernando Henrique como coordenador do congresso extraordinário em que o partido discutirá no ano que vem sua atualização. Uma adaptação de princípios à nova realidade, que os políticos e os cientistas políticos gostam de chamar pelo italianismo ¿aggiornamento¿. Fernando Henrique está sempre falando uma oitava acima dos outros tucanos em relação a Lula e ao PT, demarcando com mais clareza o campo de combate. Ele tem mais liberdade para fazer isso: não disputa o voto nem tem tarefas executivas. O instituto que leva seu nome está se tornando a meca não só de tucanos em busca de nova sintonia mas também das (poucas) forças de oposição que se organizam para resistir a Lula. Além da posição mais confortável, o ex-presidente encarna mais diretamente as perdas de identidade, de discurso e de utopia que levaram o partido a duas derrotas presidenciais. Seu governo foi malhado como Judas na campanha recente, mas o partido e seu candidato não conseguiram responder à altura, defendendo as privatizações, por exemplo. Lula e o PT apropriaram-se do feito maior, a estabilidade que veio com o Real, e ficou por isso mesmo. Mal conseguiram os tucanos balbuciar que os programas sociais unificados no Bolsa Família nasceram no segundo governo FH.

¿ Fomos deslocados do espaço social-democrata para uma falsa posição à direita. Precisamos resgatar a identidade do partido e a percepção do que representamos. Temos de ter humildade para reconhecer que falhamos pelo menos em nossa comunicação com o eleitorado, pois em alguns estados tivemos apenas 17% dos votos ¿ diz o governador Aécio Neves, que participou da reunião de anteontem com FH, juntamente com o presidente do partido, Tasso Jereissati, e o ex-governador Geraldo Alckmin. A ausência de Serra foi justificada por um compromisso anterior, mas só reforça a idéia de que ele tem se envolvido pouco com a vida partidária. Mas foi ele o primeiro a reclamar de uma certa ¿direitização¿ do partido, ainda como ministro de FH. Isso não fundamenta, entretanto, os boatos de que estaria planejando construir um novo partido. Quanto mais se alarga o chamado ¿campo de Lula¿ na política brasileira, mais claro fica que tanto ele como Aécio só terão chances em 2010 através de um PSDB fortalecido. Aécio entendeu isso, e a evidência é seu afastamento de Lula (que acabou por subtrair-lhe a idéia de fazer uma grande reunião de governadores).

Quando fala em atualizar-se, parece claro que o PSDB busca uma nova inclinação de centro-esquerda, perdida exatamente nos anos FH, com as políticas liberais. Isso transparece no que diz Tasso Jereissati:

¿ Nosso programa tem 20 anos. Está desatualizado. Temos que analisar o que é a social democracia nos dias de hoje, o papel do Estado brasileiro, o capitalismo moderno e as políticas sociais.

O PFL não faz segredo de que pretende desenvolver agora um vôo solo pela direita, o que é bom, dá mais nitidez ao quadro partidário. O que nem o PSDB sabe ainda é como resgatar o lugar e a aura perdidos para o PT, que, enquanto tiver Lula, será o pólo aglutinador de um grande bloco político. Mas em 2010 não terá mais Lula como candidato. Essa é a brecha que os tucanos precisam aproveitar.

Em Washington, o governador eleito Sérgio Cabral tentará convencer Joaquim Levy a ser seu secretário de Fazenda. Obstáculo, o salário de US$ 35 mil que Levy ganha como vice-presidente do BID.

Lula na fonte das crises

O PT reúne hoje seu diretório nacional com a presença do presidente Lula e a reverberação da prisão de um deputado eleito pelo partido. Com a crise, Lula deixou de freqüentar o partido e volta num momento de constrangimento. Querem que ele ajude a evitar a volta de Ricardo Berzoini à presidência. Mas uma das doenças infantis do PT ¿ o complexo de menino dono da bolsa que deseja tudo só para si ¿ parece controlada. Não se tem ouvido pio nem estrilo contra a coalizão com o PMDB. Por ora.

Quanto a Juvenil Alves, o deputado eleito que foi preso pela PF, a conta tem que ser cobrada do PT de Minas. Ali ele já tinha fama de trambiqueiro. Com sua campanha endinheirada, ele, que entrou no partido em 2004, ajudou a derrotar Paulo Delgado, o mais antigo deputado petista.

NA FESTA dos 40 anos da Embratur, presentes 13 dos 15 ex-presidentes da empresa, técnicos e empresários do setor puxaram o cordão pelo ¿fico¿ do ministro Walfrido dos Mares Guia no cargo. Ele é ¿ficante¿, mas Lula não lhe disse nada ainda.

SÓ UMA explicação pode existir para o fato de Lula não confirmar a permanência de ministros ¿ficantes¿ como Walfrido, Celso Amorim, Dilma Rousseff e outros: a dúvida que ainda acalentaria sobre a permanência de Mantega na Fazenda. Quem diz isso é gente do próprio governo.

ALGUNS ministros novos, entretanto, terão que ser nomeados ainda antes da virada do ano. O da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não pretende entrar 2007 no cargo. O advogado-geral da União, Álvaro Ribeiro, também não.