Título: VÔO ATRASADO, LUCRO AMPLIADO
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 25/11/2006, Economia, p. 35

Vendas nas lojas dos aeroportos aumentam em dia de caos

BRASÍLIA. A confusão no sistema de tráfego aéreo no país, uma constante dos últimos 30 dias, está fazendo a alegria de pelo menos um setor da economia: os comerciantes da área de embarque dos aeroportos. Enquanto aguardam os vôos atrasados por horas, confinados à beira dos portões, os passageiros têm poucas opções para matar o tempo. Uma delas é gastando dinheiro. As vendas de alimentos, bebidas, livros, jornais, revistas e vestuário estão crescendo, e alguns lojistas registraram o dobro de receitas em comparação aos períodos de normalidade. É o caso de negócios de alimentação e revistas de passatempo.

¿ O nosso maior aumento nas vendas é nos passatempos e revistas de fofoca. Aumentou muito, quase dobraram as vendas de palavras cruzadas nas lojas das salas de embarque. Aumentou também a venda de sudoku (semelhante às palavras cruzadas, só que com números), mas este passatempo é mais elitizado ¿ diz Jacó Rodrigues Loiola, assistente de gerente da livraria Sodiler, com três lojas nas salas de embarque do Aeroporto Internacional de Brasília.

Segundo ele, as vendas se concentram nas primeiras horas de atraso e param por volta das 23h30m:

¿ Vemos que nos atrasos que adentram a madrugada a venda não cresce. Acho que os passageiros ficam muito saturados.

Situação semelhante acontece na rede La Selva, presente em dez aeroportos do país. O aumento das vendas, de acordo com a rede, chegou a 10%, praticamente o mesmo registrado pela Sodiler no Aeroporto de Brasília.

Já o ramo de alimentação viveu dias de explosão de consumo no auge da crise: os feriados de Finados e da Proclamação da República. De acordo com Eguiberto Rissi, diretor da Brunella, com lojas em Guarulhos e Congonhas, as vendas praticamente dobraram:

¿ Pela manhã, o incremento é na venda de café, lanches e pão de queijo. Na hora do almoço, nas refeições rápidas, principalmente para executivos. Já a venda de água aumenta o dia todo.

Rissi conta que as lojas da rede antes fechavam por volta de meia-noite e agora ficam abertas até 2h:

¿ Estamos trabalhando em esquema de plantão. Só não tivemos problemas de falta de mercadoria no auge da crise porque temos um grande estoque e outras lojas pela cidade.

O efeito dos atrasos nos lucros, porém, não atinge a todos. Em dia de caos, o movimento na Tie Shop, criada para aproveitar o filão dos profissionais convocados de última hora e que não têm gravata, cai até 15%:

¿ Acho que as pessoas ficam estressadas, mais preocupadas com os vôos do que com a aparência ¿ avalia Luciana Mourelle, supervisora da Tie Shop do Aeroporto de Congonhas. (Henrique Gomes Batista)