Título: NOVO COMANDO NAS TORRES
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 25/11/2006, Economia, p. 35

Governo exonera chefe do tráfego aéreo para atenuar crise com controladores de vôo

Em plena crise entre a Aeronáutica e os controladores de vôo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu mudar o comando do Departamento do Controle de Espaço Aéreo (Decea), ao qual estão subordinados os centros nacionais de controle de tráfego aéreo, chamados de Cindactas. O diretor-geral do departamento, brigadeiro Paulo Roberto Cardoso Vilarinho, foi exonerado do cargo. O vice-diretor do Decea, major-brigadeiro Ailton dos Santos Pohlmann, também deixou o órgão. Os dois irão ocupar outros postos na Força Área. No lugar de Vilarinho, assume, interinamente, o major-brigadeiro Paulo Hortênsio Albuquerque Silva, que até ontem era comandante do Terceiro Comando Aéreo Regional (Comar).

A exoneração de Vilarinho foi uma das saídas para aliviar a tensa relação entre a Aeronáutica e os controladores militares e civis de vôo. O brigadeiro é contra a ampliação do número de civis no sistema de tráfego aéreo e é tido como da linha dura do Comando Militar, tendo sido um dos oficiais que decidiram pelos dois aquartelamentos de controladores determinados pela Aeronáutica ao longo da crise dos últimos 30 dias: nos feriados de Finados e da Proclamação da República.

Ato de controladores acirrou crise

Na segunda determinação de confinamento, os controladores acabaram intensificando a operação-padrão ¿ reinstalando a confusão nos principais aeroportos do Brasil, com o aumento dos atrasos ¿ e derrubaram a medida em menos de 24 horas. Essa foi uma derrota do Comando da Aeronáutica, que acentuou a tensão entre militares e o Ministério da Defesa.

Em entrevista poucos dias depois, o ministro Waldir Pires, que havia sido contrário ao aquartelamento, não só se solidarizou com os controladores ¿ aconselhando os profissionais a resistirem ¿ como defendeu o estudo da proposta de desmilitarização do controle de tráfego aéreo, projeto que causa arrepio ao Comando da Aeronáutica.

Pires também assina exoneração

Além disso, logo após o acidente envolvendo o Boeing da Gol e o Legacy, que ocorreu no dia 29 de setembro e matou 154 pessoas, Vilarinho declarou que não há zonas de sombra no controle do tráfego aéreo do país. Ele acrescentou que não existe buraco negro na área onde ocorreu a colisão.

Porém, os 13 controladores de vôo dos centros de São José dos Campos (SP) e de Brasília que prestaram depoimentos à Polícia Federal, nos últimos quatro dias, afirmaram que há uma zona ¿cega, surda e muda¿ na Amazônia, em que se perdem todo e qualquer contato e sinal com as aeronaves.

Vilarinho chegou a se opor também à criação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Diante do histórico, o Executivo articulou a substituição dele com o Comando da Aeronáutica. O ato de exoneração e nomeação de Vilarinho e Pohlmann, que também foi assinado por Waldir Pires, foi publicado ontem no Diário Oficial da União. O novo vice-diretor do Decea será o major-brigadeiro Ramon Borges Cardoso, ex-chefe de gabinete do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno.

Vilarinho irá ocupar, a partir de agora, o cargo de diretor-geral do Departamento de Ensino da Aeronáutica. Ailton Pohlmann será o novo comandante do Terceiro Comar. O major-brigadeiro Antônio Telles Ribeiro, que estava na chefia do Centro de Comunicação de Aeronáutica, será o novo chefe de gabinete do comandante Luiz Carlos Bueno.