Título: LULA NÃO QUER `CHORAR LEITE DERRAMADO¿
Autor: Regina Alvares e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 25/11/2006, Economia, p. 36

Presidente se diz cansado de previsões e promete `destravar¿ economia

SÃO PAULO. No mesmo dia em que o Ministério do Planejamento reduziu de 4% para 3,2% sua estimativa para o crescimento do PIB no ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está cansado de previsões e que não adianta ¿chorar o leite derramado¿. Segundo o presidente, o governo prepara uma série de medidas para ¿destravar¿ a economia e fazer o país crescer mais fortemente no próximo ano.

¿ Estou cansado de previsões. Vamos esperar as coisas acontecerem. E se não acontecer aquilo que a gente previu, não podemos ficar chorando o leite derramado. Vamos trabalhar para que aconteça, no ano seguinte, aquilo que não aconteceu neste ano ¿ disse Lula à tarde, depois de participar das comemorações pelos 50 anos da fábrica da DaimlerChrysler (dona da marca Mercedes-Benz) no país, em São Bernardo do Campo (SP).

Ambientalistas criticam discurso do presidente

De acordo com o presidente, todos os ministérios estão trabalhando com a idéia de não apenas discutir a desoneração tributária de produtos, mas de construir medidas para desobstruir pontos da legislação que interferem nas relações com o Ministério Público, com o Tribunal de Contas da União (TCU) e com institutos estaduais de meio ambiente.

¿ Tem problemas de legislação que precisamos mudar. A idéia é preparar tudo até 31 de dezembro e anunciar a desobstrução de pontos que impedem o Brasil de crescer.

Pela manhã, durante a inauguração de um hospital em Guarulhos, Lula afirmou que está fazendo reuniões setoriais para que seu próximo mandato seja mais ¿ousado¿ e mais ¿forte¿. Segundo o presidente, a questão do desenvolvimento econômico deve ser tratada ¿com mais carinho¿ porque o povo já fez sacrifícios e pagou ¿todos os pecados que cometeu¿. Lula voltou a lembrar das dificuldades que enfrentou ao assumir o cargo:

¿ Quando a gente é oposição, está tudo na ponta da língua. Mas quando a gente é governo, tem que fazer as coisas. E, ao tentar fazer as coisas, encontra uma série de obstáculos que são naturais de um regime democrático. Ou seja, você se depara com as leis, com as questões ambientais, com a burocracia, com a oposição, você se depara com o Congresso, com o Ministério Público, com o TCU ¿ enumerou.

Em resposta ao discurso de Lula da véspera, quando o presidente criticou a demora na aprovação de obras de infra-estrutura devido a questões ambientais, 51 organizações não-governamentais divulgaram nota de repúdio. ¿Destravar o desenvolvimento não deveria significar a supressão de direitos ou de garantias legais, e sim a superação de fragilidades técnicas dos empreendedores e do governo¿, assinalam as entidades, incluindo WWF-Brasil, Instituto Ethos e Amigos da Terra.