Título: ONG feminista trabalhou para reeleger Lula
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 26/11/2006, O País, p. 4

Entidade, que organizou atividades de campanha, recebeu R$2,26 milhões para lutar pelos direitos da mulher

BRASÍLIA. Integrante da seleta lista de entidades sem fins lucrativos que receberam recursos milionários este ano, uma ONG criada para lutar pelos direitos da mulher com atuação nacional costuma fazer mais do que isso. Este ano, em que recebeu R$2,26 milhões do governo federal até este mês, a Confederação das Mulheres do Brasil (CMB) mobilizou parte de sua estrutura em prol da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Presidente da entidade, Márcia Campos literalmente suou a camisa na campanha pró-Lula, organizando e participando de atividades de apoio ao petista.

Entidade recebe recursos federais desde 2002

Levantamento feito no Sistema de Acompanhamento Financeiro (Siafi) a partir de dados do site Contas Abertas mostra que a CMB recebeu, desde 2002, cerca de R$5,8 milhões. Desse total, 95,3% foram repassados em 2004 (R$3,3 milhões) e em 2006 ¿ coincidência ou não, anos eleitorais. Os recursos foram repassados pelos ministérios da Educação e da Saúde e pela Secretaria Especial em 22 convênios. Em outubro deste ano, a ONG também foi contemplada pela Petrobras com R$477 mil, como mostrou reportagem do GLOBO no domingo passado.

Site tem pouca informação e muita propaganda

A confederação recebeu recursos para desenvolver projetos diversos como a capacitação de mulheres para o combate e a prevenção de doenças como a Aids e a dengue e a alfabetização de jovens e adultos.

Em seu site, a ONG diz que já alfabetizou mais de 30 mil alunos nos últimos três anos. Mas traz poucas informações sobre os projetos além disso. Por outro lado, não falta propaganda do presidente Lula e das realizações de seu governo. No rodapé da página, há uma logomarca da Caixa Econômica Federal.

Entre as seções do site dedicadas à política, está o ¿Jornal das Mulheres da Confederação das Mulheres do Brasil¿. Seu conteúdo é dedicado a uma comparação do governo Lula com o ¿desgoverno¿ do PSDB e nem tudo tem a ver com as políticas públicas para as mulheres. Numa das notas do jornal, exalta as conquistas da Polícia Federal nos últimos quatro anos, argumento que pontuou os discursos de Lula durante a campanha eleitoral.

Presidente de ONG integrou o MR-8 na ditadura

Márcia Campos participou de diversos eventos de campanha, sempre ao lado de líderes petistas. No dia 10 de outubro, pediu votos ao lado da primeira-dama Marisa Letícia durante uma caminhada pelo centro de Brasília. O ¿Jornal das Mulheres¿ traz uma foto deste dia, com as duas lado a lado.

Além de presidir a CMB, Márcia Campos também está à frente da Federação Democrática Internacional das Mulheres e é integrante do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), que durante a ditadura foi um grupo armado de esquerda e hoje está ligado a setores do PMDB. Em 2004, o grupo apoiou a candidatura derrotada de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo e, este ano, esteve ao lado de Lula.

Márcia não foi encontrada pelo GLOBO para falar da atuação política da ONG. Sexta-feira, funcionários da confederação informaram que ela estava fora do país, participando de uma seminário. No site da CMB, ela publicou uma resposta à reportagem de semana passada do GLOBO, na qual exalta as realizações da ONG, fundada em 1992, e defende sua atuação política.

¿Mesmo que nossa entidade não estivesse desenvolvendo ações entre as mulheres, em parcerias com o governo brasileiro, eu estaria com o mesmo empenho que estive na luta pela reeleição do presidente Lula, pelo que ele e sua reeleição representavam para o Brasil e para o nosso continente¿, diz um trecho do texto.