Título: EXEMPLO DE COOPERATIVISMO¿ DIRIGIDO POR LORENZETTI ESTÁ À BEIRA DA FALÊNCIA
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 26/11/2006, O País, p. 4

Amafrutas é retrato das ligações nebulosas de `aloprado¿ com Planalto

BELÉM. No município de Benevides, Região Metropolitana de Belém, um endereço chama a atenção na rodovia BR 316, quilômetro 20, sem número. É a sede da Central de Cooperativas do Pará, onde funciona a Amafrutas, central de fabricação e comercialização de suco concentrado de maracujá, laranja, abacaxi e acerola. Alardeada como exemplo de cooperativismo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando da inauguração em 2003, ela é hoje o retrato das ligações nebulosas de Jorge Lorenzetti com o Planalto. Deve cerca de R$20 milhões ao Banco da Amazônia (Basa) e está com a produção paralisada.

Graças à influência de Lorenzetti, a empresa tinha conseguido financiamento público para se reerguer. Na época da inauguração Lula dizia que se tratava do lançamento do Pólo de Fruticultura da Amazônia.

Contratos de exportação fechados com dólar em alta

Com o interesse do governo federal e o trabalho de bastidor de Lorenzetti e de Avelino Ganzer, ex-dirigente da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Nova Amafrutas obteve empréstimos de R$15 milhões do Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf). Foi assim que Lorenzetti ganhou a confiança dos pequenos agricultores da cooperativa. Ele, que é de Santa Catarina, na época foi escalado pelo PT para dirigir a empresa. O próprio Lula pediu em discurso que confiassem no companheiro vindo do ¿estrangeiro¿.

O clima eufórico de três anos atrás cedeu lugar ao medo de que a empresa feche de vez as portas. Um dos principais financiadores, o Basa, avalia o uso de profissionais de gestão para salvar a cooperativa. A assessoria do banco informou que o Basa não comenta a situação de seus clientes.

Um dos motivos para a derrocada da cooperativa é que Lorenzetti teria feito contratos de exportação com a Holanda e outros países, com o dólar acima de R$3. Com a oscilação da moeda americana, os compromissos tiveram que ser cumpridos com o dólar mais barato.

A Nova Amafrutas era formada por três cooperativas: a de Produção Agroindustrial (Coopagri), a Cooperativa Agrícola Mista de Produtores (Camp) e a Cooperativa de Produção Agroextrativista Familiar do Pará (Coopaexpa), que assumiram a antiga Amafrutas, em 1999, quando a empresa entrou em processo de falência.

A empresa começou com capacidade de produção de 59 mil toneladas. O número de agricultores envolvidos chegou a 2.300 em 113 núcleos de 21 cidades.

A diretoria da Nova Amafrutas, à época de sua inauguração, era formada por Max Pontes (Geral), Jorge Lorenzetti (Internacional), Avelino Ganzer e Antônio Alves de Lima (Agrícola), e Ricardo Dohara (Industrial).