Título: O CUSTO DE UMA POLÍTICA EXTERNA ERRÁTICA
Autor: Abram Szajman
Fonte: O Globo, 26/11/2006, Opinião, p. 7

OMercosul é uma área de livre comércio ou uma união aduaneira? Infelizmente, ainda não é uma coisa nem outra. Apesar de ter nascido com um nível de ambição absurdo, o bloco criado em 1994 por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, ao qual aderiu recentemente a Venezuela, não conseguiu, em 12 anos, equacionar as diferenças tributárias e os gargalos logísticos entre os países membros.

A política externa brasileira em relação ao Mercosul tem sido errática. Carregando o estigma de ser visto como o grandalhão do bairro, o Brasil faz concessões demais à Argentina, ao mesmo tempo em que não presta a devida atenção às justas reclamações do Paraguai e do Uruguai. Exemplo do primeiro caso foi a nossa concordância, por pressão de Buenos Aires, com a admissão da Venezuela, antes que este país adotasse as medidas necessárias de adaptação, as mesmas que retardam a entrada do Chile ou da Bolívia. E no segundo, a nossa omissão na polêmica das papeleiras uruguaias.

Além disso, os governos, e não apenas o atual, não consultam os empresários nas decisões que tomam, apesar de serem as empresas que sofrem as conseqüências das medidas adotadas. Não é razoável que o Brasil aceite da Argentina a imposição de cotas para determinados produtos industrializados que exportamos, quando esses mesmos itens, fabricados na China, entram no país vizinho sem qualquer restrição.

Neste momento em que a sociedade aguarda definições e correções de rumo para o segundo mandato do presidente reeleito, é preciso reavaliar nossa posição em relação ao Mercosul. O bloco é importante e vale a pena, mas não a qualquer custo. Como ocorre no futebol, às vezes é preciso jogar duro, como para evitar que salvaguardas sejam adotas apenas contra o Brasil.

Outro fator a ser revisto é o foco: não adianta debater uma agenda mirabolante, com 40 ou 50 temas. É preciso focar as ações de modo pragmático, com as seguintes prioridades: concluir a união aduaneira; eliminar barreiras jurídicas e monetárias; facilitar os negócios entre as empresas dos países membros e obter financiamentos em nome do bloco no Banco Mundial, para a ampliar a infra-estrutura regional, o que até agora sequer foi pleiteado. As questões alfandegária e fitossanitária devem ser harmonizadas o mais rapidamente possível, pois não haverá bloco econômico viável enquanto burocratas de terceiro escalão entravarem o intercâmbio entre os Estados membros.

Finalmente, é preciso considerar que no mundo globalizado as relações externas afetam o cotidiano das empresas e das pessoas. O atual impasse no Mercosul só será superado se os empresários se organizarem na defesa de seus interesses e direitos, através da informação e da mobilização da sociedade sobre as implicações internas das decisões tomadas em fóruns internacionais.

ABRAM SZAJMAN é presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP).