Título: ANTIGAS RELAÇÕES COM GUSHIKEN E DIRCEU
Autor: Chico Otavio, Ricardo Galhardo e José Casado
Fonte: O Globo, 26/11/2006, O País, p. 8

Santarosa tinha ligação com Lula quando ambos eram sindicalistas em SP

SÃO PAULO. Wilson Santarosa tem ligações sólidas com nomes influentes do PT como os ex-ministros Luiz Gushiken e José Dirceu. Diretor do Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Região nas décadas de 70 e 80, Santarosa costumava recepcionar o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente, em churrascos promovidos pela entidade. O presidente do sindicato era Jacó Bittar (ex-prefeito de Campinas) que, ao lado de Lula, Gushiken (Bancários de São Paulo) e Olívio Dutra (Bancários do Rio Grande do Sul), formava a coluna sindical que sustentou a criação do PT. Bittar se desligou do PT depois de ser alvo de denúncias de corrupção. O filho dele, Kalil, é compadre e sócio de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, na empresa Gamecorp.

Ainda como sindicalista, Santarosa foi indicado para compor o Conselho de Administração da Petros, na cota dos funcionários da Petrobras. Foi nesse período que ele se aproximou ainda mais de Gushiken, que na época era dono da Globalprev, empresa especializada na gestão de fundos de pensão.

Em julho do ano passado, ele interveio pessoalmente num caso envolvendo a Globalprev e a Sanasa de Campinas. Um ano antes o Sindicato dos Trabalhadores da Sanasa contratou a Globalprev por R$167 mil para formatar um fundo de pensão para a categoria. Do total, R$120 mil foram pagos pela empresa.

Quando o fundo foi criado, em 2004, a Sanasa contratou a Petros para gerenciar o negócio. A Petros, por sua vez, sub-contratou a Globalprev. O contrato previa o pagamento à empresa de Gushiken de R$16 por mês de cada um dos 1.022 funcionários que aderiram ao plano. A Globalprev disse na época que recebia apenas R$3.300 por mês.

Quando o caso veio à tona, a Sanasa e a prefeitura ¿ já sob o comando de Hélio de Oliveira Campos, do PDT¿ exigiram a exclusão da Globalprev. No dia 5 de julho de 2005, o presidente da Petros, Wagner Pinheiro, e Santarosa, na condição de presidente do Conselho Administrativo, foram a Campinas para tentar um acordo. A prefeitura, no entanto, bateu o pé e exigiu o cumprimento de uma cláusula contratual pela qual a gestão deveria ser feita pela própria Petros, sem intermediários.

Quando o contrato foi assinado, o presidente da Sanasa era Ricardo Schumann, um dos protagonistas do escândalo da violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa. Schumann, ex-consultor especial da Caixa Econômica Federal, admitiu à Polícia Federal ter recebido ordens do presidente da CEF, Jorge Mattoso, para conseguir o extrato bancário de Francenildo. Foi ele quem entregou o extrato a Mattoso. O caso resultou na queda de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, em março.

Do sindicato dos Petroleiros de Campinas, Wilson Santarosa foi para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde se alinhou à Articulação Sindical, braço da Articulação/Unidade na Luta, o antigo Campo Majoritário que comandou o PT por mais de dez anos, até o escândalo do mensalão. Na Articulação, ele se aproximou de José Dirceu. Santarosa e sua mulher, Geide, assinam um manifesto em defesa de Dirceu que circulou logo depois da queda do ex-ministro, ano passado.

Quando o petista Antonio da Costa Santos, o Toninho (assassinado em setembro de 2001), assumiu a Prefeitura de Campinas, Santarosa foi nomeado diretor financeiro da Ceasa.

As contas de 2002 da Ceasa de Campinas foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado. Santarosa é citado no processo como um dos responsáveis por um prejuízo de R$1,2 milhão (19% da receita da empresa). No ano anterior as perdas foram de R$400 mil.

¿Os demonstrativos contábeis elaborados pela própria Ceasa informam, de modo absolutamente conclusivo, elevadíssimo prejuízo¿, diz o voto do relator do processo, Cláudio Ferraz de Alvarenga. Desde que as contas foram rejeitadas o TCE-SP rejeitou dois recursos da Ceasa.

Santarosa continuou na diretoria da empresa depois da morte de Toninho e só deixou a Ceasa em 2003, quando foi indicado para comandar a Comunicação Institucional da Petrobras.