Título: PT, ATÔNITO, TENTA SE CONFORMAR COM COALIZÃO
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 26/11/2006, O País, p. 12

Partido assiste à partilha de cargos entre os aliados sabendo que perderá o posto de protagonista no novo governo

BRASÍLIA. Desde que chegou ao poder, em 2003, o PT nunca esteve tão contido como agora, às vésperas de se iniciar o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os petistas, que sempre se apresentaram como senhores de seu protagonismo, estão pisando em ovos e não sabem qual o poder que terão nos próximos quatro anos de governo. Querem muito, mas sabem que não vão levar tudo o que querem.

Há quatro anos, quadros petistas de todo o país freqüentavam o topo da bolsa de apostas para a formação do Ministério. Hoje são poucas as estrelas do PT que podem sonhar com um cargo no primeiro escalão do segundo mandato de Lula: a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, o ex-governador do Acre Jorge Viana e o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra.

Petistas só detêm 16 dos 34 cargos de primeiro escalão

Atônitos, os petistas vêem os aliados cobrarem a despetização do governo e a formação de uma equipe que não apenas amplie o espaço dos demais partidos governistas, principalmente o PMDB, mas também aumente a presença de personalidades sem filiação partidária. Os petistas chegaram a ter 18 dos 34 ministros do governo Lula e hoje detém 16 cargos, incluindo as secretarias nacionais.

Mesmo com toda essa supremacia, os petistas reclamam e alegam que têm pouca presença naquela parte do governo que tem poder real: os ministérios que executam os maiores orçamentos e concentram o grosso das emendas parlamentares.

¿ O PT, pelo que os deputados da bancada afirmam, está sem instrumentos de ação política ¿ relata o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP).

Os petistas argumentam ainda que eles não comandam nenhum dos ministérios da área de infra-estrutura, como o dos Transportes e o de Minas e Energia, nem estão à frente dos ministérios da Saúde, Integração Nacional e das Cidades ¿ pastas cobiçadas pela força que têm nos estados.

Eles dizem também que para o partido mais votado do país e que tem a segunda bancada na Câmara é muito pouco ter apenas dois ministérios de ponta, do ponto de vista da ação política na sociedade: Educação e Desenvolvimento Social.

Bancada está irritada com preferência de Lula por Aldo

Para muitos petistas, o partido tem quantidade, ministérios periféricos, mas não tem qualidade. Apesar do mal-estar, nada indica que a situação irá mudar e ainda há dirigentes petistas que não vêem tanta necessidade de ampliar a presença do PT no governo.

¿ Não concordo com estas queixas. Nós temos os postos estratégicos do governo. Não temos Cidades, mas estamos na Caixa Econômica Federal, que é quem comanda. Temos os principais postos da área econômica e o mais estratégico deles: o BNDES. E quem bota o governo para funcionar é a ministra Dilma Rousseff. Não sei do que se queixam ¿ afirma a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

Mas não é isso o que se vê entre a maioria de deputados e senadores que ficam profundamente irritados quando alguém afirma que o presidente Lula é maior que o PT ou que ele se reelegeu a despeito dos erros cometidos pelo partido. O secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar, é um dos que mais combatem os que fazem esta distinção.

Pomar diz que Lula é PT e PT é Lula, e que eles não podem ser separados. Os petistas estão inconformados, por exemplo, com a preferência do presidente Lula pela reeleição do atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Eles têm dificuldade até mesmo para aceitar que o PMDB, por ser a maior bancada, tenha preferência sobre as ambições petistas.

¿ A nossa preocupação é a de que o partido não saia diminuído nesse processo ¿ diz a vice-presidente do PT, deputada Maria do Rosário (RS).

Os petistas que participam da coordenação do governo têm uma visão diferente. Eles foram convencidos da idéia de que o partido tem mesmo que compartilhar o governo. Para estes, o PT deveria concentrar seus esforços em cima daquilo que será a prioridade do segundo mandato: crescimento com distribuição de renda e educação de qualidade.

Líderes apostam em manter pastas da área social

Nesta visão, o PT deveria assegurar o comando dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, e as pastas do Desenvolvimento Social e da Educação. Por isso, os principais líderes formais e informais do partido apostam na permanência dos ministros Patrus Ananias e Fernando Haddad.

¿ O presidente quer misturar bem. Integração Nacional, Transportes, Cidades, não vamos ficar com nenhum destes ¿ afirma, conformada, Ideli.

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