Título: LULA DARÁ A ALIADOS MINISTÉRIOS COM PORTEIRA FECHADA
Autor: Gerson Camarotti e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 26/11/2006, O País, p. 15

Presidente admite que errou no primeiro governo ao nomear petistas para postos-chave em todas as pastas

BRASÍLIA. Depois de uma forte pressão dos aliados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu mudar um critério fundamental na reforma ministerial. Diferentemente do primeiro mandato, em que o PT controlou praticamente todos os ministérios, ainda que ocupando cargos menos importantes, Lula já sinalizou que vai entregar aos partidos da base governista ministérios com a porteira fechada ¿ o que, no jargão da política, significa que o aliado terá o direito de indicar os ministros e os principais titulares dos cargos.

Para viabilizar o novo estilo de gestão do governo, Lula pediu que fosse feito um mapeamento da participação dos partidos aliados no governo. Os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento) receberam a tarefa de fazer a lista das nomeações políticas, e dos padrinhos dos detentores de cargos federais nos estados, no segundo escalão e nas estatais.

Os partidos aliados começaram a cobrar esse novo critério de distribuição de cargos, que é chamado também de verticalização, antes mesmo do fim do segundo turno da eleição presidencial. O PMDB foi o primeiro a reivindicar a verticalização. Nos bastidores, os principais líderes do partido disseram que só aceitam ministérios totalmente livres, sem a interferência do PT. O exemplo também começou a ser seguido por PL, PP e PTB.

¿ Num governo de coalizão, as forças políticas se juntam para governar o país. Os partidos são responsáveis pelo governo e pela gestão de setores da administração ¿ disse o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), que começa quarta-feira a discutir institucionalmente com Lula o governo de coalizão.

Os aliados lembram que no primeiro governo Lula, os ministros dos partidos aliados funcionaram como rainhas da Inglaterra, já que o PT indicava o secretário-executivo e os outros principais cargos da pasta. Lula, em reuniões reservadas, reconhece que errou e tem dito que, muitas vezes, o ministro nem conhecia direito o secretário-executivo.

O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), diz que adotará a verticalização no estado:

¿ Na Bahia, eu vou verticalizar o núcleo central de cada secretaria. Acho que um partido tem que ter controle sobre uma pasta. Essa idéia de intercalar diferentes concepções não funciona. E você acaba fazendo um Frankenstein. Agora, não acho que todos os cargos deste ministério nos estados têm de ser obrigatoriamente verticalizados.

Lula antecipou ao líder do PL, deputado Luciano Castro (RR), que o partido receberá um ministério sem petistas.

¿ O presidente quer ter uma relação mais madura com os partidos da base, e não como antes, quando o ministério era uma colcha de retalhos: o partido tinha ministro e o PT mandava embaixo ¿ disse Castro, referindo-se ao Ministério dos Transportes.

O PL comandou essa pasta com Anderson Adauto e Alfredo Nascimento e, atualmente, indica Paulo Sérgio Passos. Mas num primeiro momento, houve conflitos, pois o PT pôs filiados em postos estratégicos.

¿ A imagem do Ministério dos Transportes mudou. O Lula sabe disso. Quando o secretário-executivo era do PT, havia muita confusão. Depois, ficou tudo em harmonia ¿ diz Castro.