Título: Os espiões do Pan
Autor: Antônio Werneck e Elenilce Bottari
Fonte: O Globo, 26/11/2006, Rio, p. 19

Planejamento para os jogos prevê um superesquema de vigilância

Nada de canhões apontados para favelas, ocupação ostensiva de morros e barreiras policiais que só atrapalham o trânsito: a segurança do Rio durante os Jogos Pan-Americanos de 2007 vai ser discreta, quase invisível, mas será a maior e mais abrangente de todos os tempos no país. A promessa é dos responsáveis pela segurança do maior evento esportivo já realizado no Brasil. Durante 60 dias, nos meses de junho, julho e agosto de 2007, mais de dez mil homens estarão prontos para monitorar qualquer deslocamento dentro e fora do estado. Muitos deles atuarão como espiões, disfarçados entre a população. Tudo para garantir que os jogos transcorram na maior tranqüilidade e a cidade sofra o menor transtorno possível.

A vigilância vai ser tão ampla que toda a infra-estrutura do país, não só a do Rio, será policiada a partir de janeiro do próximo ano. Hidrelétricas como a de Itaipu (na fronteira do Brasil com o Paraguai) estarão sob vigilância para evitar qualquer ação terrorista, uma das grandes preocupações no Pan 2007 pela presença entre os atletas da delegação americana. Também serão vigiados, dentro de um plano de análise de risco, estações de tratamento de água, torres de transmissão de energia e outros serviços considerados essenciais. No Rio, a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) receberá reforço no policiamento, assim com as usinas nucleares Angra I e II. Até mesmo um complexo plano de evacuação do município poderá ser rapidamente executado em casos graves de ataques terroristas.

Movimento sindical será monitorado

Os responsáveis pela segurança dos jogos ainda prometem monitorar qualquer mobilização sindical que implique em movimento grevista em serviços considerados essenciais e que de alguma maneira possa atrapalhar a realização do Pan-Americano. Sindicatos e movimentos populares no país já estão sendo espionados por agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da inteligência da Polícia Federal.

No Rio, o policiamento será reforçado em toda Zona Sul. Pontos turísticos como o Cristo Redentor, o bondinho do Pão de Açúcar e as praias da orla do Rio, que atraem um grande número de turistas, estarão sob vigilância. O plano prevê ainda vigilância com homens e câmeras nas principais vias expressas do Rio, como a Avenida Brasil, as Linhas Vermelha e Amarela, assim como todos os túneis, estradas federais e estaduais (de acesso ao município), além das barcas, do metrô e dos trens. Haverá perímetros de segurança da entrada do Estado do Rio até os locais dos jogos e de concentração de atletas. Nos aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont, equipes de fiscalização da Polícia Federal e da Receita Federal estarão atuando com cães farejadores nos terminais de embarque e principalmente nos de desembarque.

O plano de segurança dos jogos foi apresentado nos seus mínimos detalhes na quarta-feira da semana passada ao ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, e ao secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa. Um dos principais pontos da apresentação foi mostrar ao ministro e ao secretário que a segurança da cidade vai ser organizada de uma forma que a população mantenha sua rotina. Os responsáveis pela segurança dos jogos disseram aos dois que boa parte do efetivo que vai para as ruas vem de fora, da Força Nacional e das polícias Federal e Rodoviária Federal. Isso para deixar as polícias Civil e Militar do Rio cuidando de suas atribuíções.

¿ Queremos ser discretos e eficientes. A população vai ver pouca polícia nas ruas, mas ela estará lá. Estamos, pela primeira vez no país, tratando a segurança do Pan de uma forma profissional e inteligente como nunca antes ¿ disse José Hilário Medeiros, coordenador das ações de segurança dos jogos, que há um ano está no Rio.

A segurança no Pan terá um comando central (o Centro Operacional de Segurança dos Jogos, em local não revelado em algum ponto do município do Rio) e oito regionais (no Autódromo, na Avenida Ayrton Senna, na Vila do Pan, em Copacabana, em Campo Grande, no Aterro, no Maracanã e nas vias especiais). Todos estarão interligados e on-line com mais 30 centros nos seguintes locais: Riocentro, Autódromo, Morro do Outeiro, Cidade do Rock, Marapendi, pista de boliche, Aeroporto de Jacarepaguá, Windsor, Sheraton, Orla Barra-Recreio, Vila do Pan, Posto Seis, Lagoa, Leme, Miécimo, Deodoro, Marina da Glória, Santos Dumont, Parque do Flamengo, Complexo do Maracanã (Júlio Delamare, Maracanãzinho, João Havelange); Linha Amarela, Linha Vermelha, Aeroporto Tom Jobim, Perimetral, Gasômetro e Avenida Brasil.

¿ Como o trânsito da cidade em alguns horários é problemático, vamos ter tropas de policiais de pronto emprego preparadas para deslocamento aéreo para qualquer ponto do Rio ¿ afirmou Hilário Medeiros.

São ao todo 34 pontos de ações. Dez dessas ações são consideradas principais: ação antiterrorista (prevenção e informação contra o uso de explosivo, seqüestro de personalidades ou autoridades, ataques armados, assassinato de personalidade e seqüestro de aeronaves); ação contraterrorista (ações táticas); controle de entrada e saída do país; controle das divisas do Estado do Rio; execução de varredura (antes e após) e de prevenção antibomba nos locais de competição e não competição, hospedagem, eventos oficiais e treinamento; ocorrência com reféns (gerenciamento de crises); segurança de autoridades; segurança das delegações; ação de segurança e controle nas rodovias federais e segurança móvel das delegações e autoridades para os locais de hospedagem, embarque, treinamento, competição, não competição e pontos turísticos.

No Rio, todo o espaço aéreo estará sob vigilância máxima, com zonas proibidas. Na Baía de Guanabara, embarcações não autorizadas estarão proibidas de circular em áreas próximas aos locais de competição, como a Marina da Glória, a Praia do Flamengo e Enseada de Botafogo. Pelo menos 600 câmeras de última geração (e não 400, como inicialmente estava previsto) serão instaladas em pontos estratégicos de avenidas, vias expressas e túneis, além de locais de concentração popular (Rodoviária Novo Rio, por exemplo), que serão capazes de informar, imediatamente, aos centros de controle se a placa de determinado automóvel é clonada e se o veículo está autorizado a circular. Caso contrário, uma equipe de policiais é enviada para interceptar, identificar e prender os ocupantes caso necessário.

Ocupação social em morros e favelas

Uma das grande novidades do plano de segurança dos jogos é a ocupação social de morros e favelas do Rio para combater traficantes de drogas. Ao todo 150 comunidades, localizadas na região em torno de áreas de competições e da Vila Olímpica, estão sendo atingidas no município do Rio por programas como polícia comunitária, de atenção e proteção às famílias e de proteção às crianças. Está sendo implantada uma brigada socorrista de cerca de mil jovens com o objetivo de formar membros das comunidades de risco, próximos aos locais de competições, para que atuem como voluntários.

Também estão sendo formados cerca de 10.500 guias cívicos para atuar durante os jogos, todos procedentes de comunidades pobres. Eles estão sendo treinados por líderes comunitários habilitados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).

NÚMERO DE ROUBOS BATE RECORDE HISTÓRICO na página 22