Título: RACISMO, MAL QUE HOSPITAL DECIDIU COMBATER
Autor: Maria Elisa Alves
Fonte: O Globo, 26/11/2006, Rio, p. 23

Bonsucesso é primeira unidade do Rio a treinar funcionários para não discriminar pacientes por causa da cor

Os sintomas não são muito evidentes e o tratamento ainda é polêmico, mas o Hospital Geral de Bonsucesso (HGB) resolveu combater um mal que pode estar afetando a unidade: o racismo. Embora não tenha ainda dados concretos sobre a discriminação racial em suas dependências, o HGB ¿ afinado com o ministro da Saúde, Agenor Álvares, que há um mês declarou que o Sistema Único de Saúde (SUS) é racista¿ está, numa iniciativa pioneira no Rio, treinando seus funcionários para tratar todos os pacientes de forma igual, independentemente da cor da pele.

¿ Todo mundo diz que não há racismo no hospital e, realmente, nenhum paciente branco será atendido antes de um negro que esteja com os mesmos problemas de saúde. A discriminação é bem mais sutil ¿ diz Valcler Rangel, diretor interino do HGB e, ele mesmo, exemplo de como o racismo pode se manifestar por vias tortas. ¿ Costumo usar terno e quem não me conhece no hospital logo pergunta se sou pastor. Não passa pela cabeça de ninguém que eu, pardo, seja médico.

Além de combater o ¿racismo institucional¿, o HGB agora exige que todo paciente declare sua cor ao ser atendido. Com os dados, a direção, que já descobriu que 85% dos baleados são negros, vai avaliar não só se eles demoram mais a conseguir consultas ambulatoriais, mas também a prevalência de determinadas doenças nessa faixa da população. O objetivo inicial é saber se a mortalidade infantil e materna no HGB é mais alta entre negros, que, na prática, têm recebido mais atenção:

¿ As gestantes negras estão sendo olhadas sob outro prisma porque os dados mostram que elas, além de mais chances de ser hipertensas, têm menos acesso a consultas de pré-natal ¿ diz Valcler

As mudanças foram aprovadas por Ana Cristina Lobo, que teve Ryan na terça-feira:

¿ Quis vir para cá porque sabia que seria bem atendida.

Em 2007, o HGB quer atender uma comunidade quilombola. E conseguir um pai-de-santo:

¿ Já temos padre, pastor, budistas, espíritas, mas ninguém que atenda quem segue a umbanda ¿ diz Valcler.