Título: PESSOAS VÃO ENCARAR AVIÃO COMO ENCARAM DENTISTA¿
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 26/11/2006, Economia, p. 39

Presidente do Sindicato das Empresas Aéreas alerta para os efeitos da crise no desempenho financeiro do setor

BRASÍLIA. A crise dos aeroportos, que há um mês vem causando atrasos e cancelamentos de vôos, já provocou queda no número de passageiros transportados pelas empresas aéreas e pode afetar o desempenho do setor ¿ que vinha crescendo a um ritmo superior ao da economia ¿ em 2007, adverte Marco Antonio Bologna, presidente da TAM e recém-empossado dirigente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea). Segundo ele, a crise também terá impacto no comportamento das pessoas, que passarão a encarar a viagem como algo temoroso e desconfortável.

Os entraves que estão postos hoje para a aviação civil não foram superados, diz ele. Isso faz com que não estejam garantidas, no fim de ano, tanto a tranqüilidade nos aeroportos quanto as boas vendas das companhias:

¿ Já houve queda na ocupação de 72% para 66% dos assentos. Não há só o medo de voar, agora há o receio de ir ao aeroporto. Se a crise continuar, as pessoas vão encarar avião como encaram o dentista. Isso seria muito ruim, teríamos como passageiros apenas aqueles que precisam realmente voar.

Bologna acredita ainda que a atual crise pode atingir em cheio o turismo internacional. Isso seria, para ele, um balde de água fria no setor, que estava deslanchando:

¿ Estamos começando a colher os frutos da grande promoção do Brasil no exterior pela Embratur nos últimos anos. Mas o turista internacional, ao contrário do doméstico, tem opção: ele não precisa ir ao Nordeste, pode ir ao Caribe.

Porém, Bologna vê com alívio a contratação de novos controladores de vôo e não espera para o fim de ano operações-padrão e a repetição da fase aguda da crise:

¿ E, para essa época, nós das companhias estamos nos preparando para ter plano de contingência, avião de cobertura, maior efetivo de pessoal de prontidão. Daquela vez, fomos pegos de surpresa.

Bologna se diz otimista em relação ao futuro:

¿ O governo percebeu a dimensão do problema, caiu a ficha. Já foram tomadas algumas medidas emergenciais que minimizam o problema, e estamos sempre nos reunindo para achar uma solução.