Título: Pintados de guerra
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 27/11/2006, O GLOBO, p. 2

Nas vésperas de iniciar-se o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição diverge sobre como combater o governo nos próximos quatro anos. Uma ala, onde predomina o PFL, pretende manter o clima de guerra que se instalou em 2005, com a CPI dos Correios. Outra, onde quem dá o tom é o PSDB, adota uma postura de maior cautela sem abrir mão da crítica.

A segunda postura oposicionista está sendo adotada, entre outros, pelos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves. A maioria de deputados e senadores do PSDB também estão nessa linha. Não foi à toa que o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), retirou-se do plenário na votação que aprovou a criação do décimo-terceiro benefício do Bolsa Família. Esta ala da oposição tem poder, nos estados, e o mais importante: tem perspectiva de voltar a comandar o governo federal em 2010. Esta é a linha predominante da oposição, mas não a que tem mais destaque.

Embora minoritária, tem maior visibilidade a ala da oposição que faz mais barulho. Ela é liderada ideologicamente pelo PFL. Seus expoentes são os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Heráclito Fortes (PFL-PI), Tasso Jereissati (CE), que é presidente do PSDB, e o deputado Roberto Freire (PE), que preside a MD (ex-PPS). Estes têm em comum o fato de não terem poder, nos estados, e representarem grupos políticos que estão com seu futuro político ameaçado. Por isso, buscam abrir espaço adubando o terreno e fomentando um clima de radicalização. Foram estes que inspiraram as críticas mais ácidas ao fato do líder Arthur Virgílio ter aceito uma carona no avião de Lula.

Nesse ambiente, em que uma parte da oposição morde e a outra assopra, o presidente Lula tenta construir os pilares do segundo mandato. No sábado, na reunião do Diretório Nacional do PT, o presidente reafirmou que irá procurar a oposição para conversar. Ele argumentou: ¿não dá para a gente passar mais quatro anos nessa coisa maluca, nessa guerra sem fim que nós passamos os primeiros quatro anos¿.

Os partidos e os políticos estão fazendo suas apostas e apresentando suas armas para os próximos quatro anos. Quando se realizarem as eleições municipais, daqui a dois anos, será o momento para o governo e a oposição calibrarem sua ação e seus métodos. Com o resultado eleitoral, será possível avaliar quem adotou o melhor caminho.