Título: HOMENS VIOLENTOS
Autor: GARY BARKER
Fonte: O Globo, 27/11/2006, Opinião, p. 7

Pesquisas globais confirmam que a violência contra a mulher varia muito conforme o contexto social, econômico e cultural, sendo mais freqüente em sociedades onde as mulheres têm menos poder e menos status social. No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem.

É hora de os homens também se engajarem nessa luta e iniciarem uma revolução. Uma revolução pacífica pode ser feita pelos próprios homens, os detentores do poder na atual ordem de gênero.

Na política de resistência não violenta, Gandhi mostrou aos ingleses que seus valores sobre democracia e estado de direito de nada serviam enquanto negavam aos indianos o seu desejo claro de autodeterminação. Em outras palavras, Gandhi jogou a honra inglesa na cara dos próprios ingleses.

Essa revolução, ainda que de forma incipiente, já começou. No Canadá, em 1991, nasceu a ¿Campanha do Laço Branco ¿ Homens pelo fim de Violência contra a Mulher¿, que inspirou campanhas parecidas em quase 50 países, incluindo o Brasil. Na Índia, um grupo chamado ¿Men Acting to Stop Violence Against Women ¿ MASVAW¿ (Homens Atuando para Acabar com a Violência contra a Mulher) reúne homens de várias profissões e classes sociais para intervir em casos de violência contra a mulher. No Brasil, algumas ONGs trabalham envolvendo homens em campanhas comunitárias e em grupos educativos para questionar a violência contra a mulher e pensar soluções locais e comunitárias para erradicar o problema.

E o que mais podemos fazer? Há várias coisas: incluir, na escola, reflexões sobre gênero, violência e relações entre homens e mulheres; formar grupos comunitários de homens e mulheres para pensar novas formas de relacionamento; criar campanhas locais e nacionais. Sobretudo, os homens que condenam a violência contra a mulher devem denunciar os atos violentos cometidos por outros homens e expressar publicamente o seu repúdio a este tipo de violência.

Como convencer os homens a se aliarem a esta causa? Relações pessoais baseadas em dominação e violência, seja em casa, no ambiente de trabalho ou em espaços políticos, trazem prejuízo tanto para os opressores quanto para os oprimidos. Pode soar utópico, mas, como temos observado mundo afora, com o sucesso de várias campanhas, os homens têm o poder de desconstruir a idéia de uma ¿suposta¿ honra masculina baseada na opressão e na violência contra a mulher.

GARY BARKER é diretor-executivo da ONG Promundo.