Título: FUNDOS MULTIMERCADOS SUPERAM DI E ACUMULAM PATRIMÔNIO DE R$200 BI
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 27/11/2006, Economia, p. 18

Queda de juros eleva apetite por aplicação de risco, mas é preciso ter cautela

Os fundos multimercados atingiram, em novembro, um patrimônio líquido inédito, de R$196,8 bilhões. Foram a segunda maior categoria de fundos do mercado brasileiro, atrás apenas da tradicional renda fixa (R$324,76 bilhões), segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). O crescimento acelerado e os ganhos elevados que o segmento tem obtido nos últimos anos vêm seduzindo investidores, que devem ter duas questões em mente antes de fazer suas aplicações: em primeiro lugar, que é um investimento de risco alto, e, em segundo, que os multimercados não são todos iguais. Há fundos mais e menos arriscados.

Os multimercados podem aplicar, basicamente, em quatro segmentos distintos: de juros, de ações, de títulos da dívida externa e de câmbio. Os que aplicam em ações, por exemplo, são considerados mais arriscados do que os que apostam apenas em juros e títulos da dívida externa. Luís Carlos Simão, responsável pela área de atendimento ao cliente da Brascan Gestão de Ativos, explica que os gestores utilizam estratégias bastante diferenciadas de fundo para fundo. Alguns aplicam nos quatro mercados ao mesmo tempo; outros concentram os investimentos apenas em dois.

¿ Nenhuma aplicação é livre de risco. Os fundos de renda fixa, por exemplo, tidos como aplicação mais segura, podem ter um risco um pouco maior se, no lugar de ter apenas títulos públicos na carteira, investirem também em papéis privados. O mesmo acontece com os multimercados. Por isso, o investidor precisa saber bem em que está aplicando, para não correr um risco maior do que o que deseja ¿ explica o economista Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.

No ano, ganho só é menor que o dos fundos de ações

A rentabilidade da categoria tem atraído investidores, especialmente nos últimos dois anos, com a tendência de queda das taxas de juros. A taxa básica Selic, que era de 19,75% ao ano em meados de 2005, chegou a 17,25% em janeiro de 2006 e hoje está em 13,75% ao ano. Para conseguir uma melhor rentabilidade, os investidores acabaram procurando aplicações de maior risco, como os fundos multimercados e ações, que historicamente têm um desempenho superior ao da renda fixa.

Esse cenário fez com que os multimercados, que em 2002 tinham quase metade do tamanho de hoje (R$114,5 bilhões), avançassem a passos largos. A rentabilidade mais alta atraiu investidores. Este ano, por exemplo, os multimercados perdem apenas para os fundos de ações como aplicação mais rentável. Dados do site Fortuna mostram que, enquanto a primeira categoria se valorizou, em média, 23,78% até o dia 21, a segunda avançou 15,77%, bem acima da variação dos DI (12,8%) e da renda fixa (13,31%).

Tamanha rentabilidade implicou risco maior. Cálculos do economista Marcelo D¿Agosto, autor do livro ¿Como escolher o melhor fundo de investimento¿, mostram que o risco de perda desses fundos é bem superior à média de mercado.

¿ Após analisar o comportamento histórico das cotas dos fundos, é possível verificar que há uma perda esperada de 1,5% em média para os multimercados. Isto é, os fundos podem chegar a perder 1,5% de seu patrimônio num mês. Mas há multimercados na indústria em que esse risco é de 5%. Para se ter uma idéia, nos fundos de renda fixa esse percentual é de 0,36%, e nos DI, de 0,01%. Nos fundos de ações, chega a 8,5%, em média ¿ diz D¿Agosto, que usou um modelo de cálculo bastante difundido no mercado financeiro, chamado VAR.

Fundo chegou a perder 30% em um único dia

Há casos extremos. Em maio deste ano, um fundo multimercados que tinha patrimônio de R$20 milhões teve prejuízo superior a 30% em um único dia. Hoje, há apenas R$300 mil aplicados no fundo.

¿ Uma maneira de tentar minimizar os riscos é ler atentamente o regulamento do fundo, ver se a instituição que faz a gestão tem uma boa estrutura e um histórico de bons resultados nesse mercado. Os multimercados são uma excelente aplicação nas mãos de um gestor qualificado e experiente ¿ avalia Ricardo Junqueira, sócio-diretor da Ático Asset Management.

Algumas instituições, como a Ático e a GAP Asset Management, enviam relatórios mensais sobre a estratégia utilizada no fundo, explicando ao investidor quanto foi aplicado em cada mercado e de que forma. Outras acreditam que o segredo é a alma do negócio e não entram em detalhes sobre a aplicação.