Título: VOTOS PARA UNS, DÓLARES PARA OUTROS
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 27/11/2006, O Mundo, p. 19

Comércio informal aproveita e fatura perto das seções eleitorais

QUITO. As eleições mostraram ser uma boa oportunidade para milhões de equatorianos que têm no comércio informal sua única fonte de renda. Nos arredores do Colégio Central Técnico de Quito, a maior seção eleitoral da capital, vendedores aproveitaram as ruas fechadas pela polícia ao tráfego de carros para instalar ali dezenas de barracas, que vendiam de tudo um pouco. Destaque para a de Germano Maza, de 28 anos, morador do sul (região mais pobre) da cidade. O atrativo do ponto era um robusto porco ¿ tipo de carne mais consumida pelos equatorianos ¿ cozido.

¿ Delicioso, quentinho, vote, e depois venha desestressar comendo esta maravilhosa carne, somente por US$2! ¿ gritava o comerciante.

Maza vendeu nada menos do que cem pratos de porco, faturando US$200, durante o primeiro turno da votação, no mesmo local, em outubro.

¿ Agora, trouxemos refrigerante, sobremesa, acompanhamentos, pretendemos faturar mais ¿ disse.

Contando com a ajuda da irmã e da mulher na empreitada, Maza havia se dirigido à seção eleitoral às 6h, uma hora antes do início da votação, e pretendia ali ficar até o último cliente (a zona eleitoral fecharia às 17h). Uma de suas maiores preocupações foi levar um toldo para proteger os clientes da chuva que cai diariamente por volta das 16h nesta época do ano em Quito.

Também faturavam as dezenas de plastificadores de comprovantes de votação. Os equatorianos não podem viajar nem abrir conta em banco, por exemplo, sem comprovarem estar em dia com a Justiça eleitoral.

¿ Aqui, nosso comprovante de voto vale tanto quanto nossa cédula de identidade. Temos de mantê-lo em bom estado ¿ disse a manicure Carla Fernández, que pagava US$0,25 para ter seu documento plastificado.

A concorrência entre os plastificadores era tão grande que Fernando Alvarez, um deles, passou a oferecer o mesmo serviço a US$0,20. Quem não precisou enfrentar competição foi Mercedes Rodriguez, única que vendia roupinhas para cachorro, cópias da camisa da seleção de futebol equatoriana, por US$1.

¿ Temos que ser originais para conseguir ganhar um dinheirinho ¿ brincou. (M.T.C.)