Título: CONFLITO É IGNORADO NO INTERIOR DO PARÁ
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 28/11/2006, O País, p. 4

Ibama demora a intervir em confronto iminente entre ribeirinhos e madeireiros

BELÉM. O Ministério Público Federal no Pará pediu sexta-feira ao Ibama que seja enviada, com urgência, uma equipe de fiscalização para o município de Prainha, no oeste do Pará, para tentar evitar um conflito entre ribeirinhos e madeireiros, que os procuradores consideram iminente. No últimos dias, os ribeirinhos apreenderam nove balsas carregadas de madeira e exigem a presença de representantes do Ibama para liberá-las. Com dificuldades financeiras, o Ibama ainda não foi ao local.

Além do Ibama, a Polícia Militar também foi alertada pelo Ministério Público. Os procuradores pediram que os policiais suspenda o tráfego de balsas no Rio Uruará.

¿ Há a possibilidade de que o conflito se acirre ainda mais com a chegada de empregados de madeireiras à região ¿ disse Felício Pontes procurador-chefe no Pará.

No local, já há mobilização armada. Os ribeirinhos se uniram contra o transporte ilegal de madeira que vem ocorrendo no Rio Uruará. As balsas estariam arrancando a vegetação das margens do rio e causando risco à navegação das embarcações dos ribeirinhos.

No início do mês, cerca de 60 moradores da comunidade de Santa Maria do Uruará incendiaram uma balsa carregada de madeira, da Herge Madeireira. Na ocasião, o Rio Uruará, que é a principal via de acesso ao município, foi bloqueado para a passagem de balsas-madeireiras.

¿ Estamos há mais de um mês brigando contra essas madeireiras ilegais. Já chamamos o Ibama e, até agora, nada. O povo já cansou, se aborreceu dessa peleja ¿ diz Rosália Furtado, integrante do Conselho de Uruará.

Madeireiros fizeram balsa bater em barco de morador

O conflito começou no início de outubro, quando moradores de Vila Santa Maria do Uruará, no município de Prainha, fecharam o rio que dá acesso à comunidade. Era um protesto contra a invasão de seis madeireiras na região. O estopim foi a morte de morador atropelado por um caminhão de uma madeireira. Durante a manifestação, os madeireiros reagiram ordenando que uma balsa batesse em uns dos barcos que estavam fechando o rio.

¿ Esse conflito ainda pode ter como conseqüência mais mortes. Existem madeireiras que exploram a floresta ilegalmente e usam o Rio Uruará para transportar as toras de madeira até o Rio Amazonas, sem que se faça coisa alguma para impedir ¿ disse o advogado da comunidade, Adamor Malcher.