Título: GASTO ELEITORAL REFORÇA TESE DE CAIXA 2 EM 2002
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 28/11/2006, O País, p. 8

Campanhas do PT e do PSDB à Presidência somaram R$180 milhões; gasto declarado na última disputa foi de R$100 milhões

BRASÍLIA. As prestações de contas que PT e PSDB entregarão hoje à Justiça Eleitoral revelam que os dois partidos gastaram, juntos, algo em torno de R$180 milhões somente com a campanha presidencial. O número supera todas as previsões iniciais, torna a corrida presidencial deste ano a mais cara da história democrática brasileira e reforça a tese de que o caixa dois foi o principal meio de financiamento eleitoral em 2002. Naquele ano, em valores corrigidos pela inflação do período, os dois partidos declararam despesas somadas de cerca de R$100 milhões.

Os principais comandantes dos comitês do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva e do candidato derrotado Geraldo Alckmin passaram o dia ontem de calculadora na mão. As duas campanhas terminaram as eleições no vermelho, isto é, gastaram mais do que conseguiram arrecadar. Até ontem, os tesoureiros das duas campanhas buscavam meios de tentar reduzir o déficit, que, nos dois casos, se aproximava de R$5 milhões.

¿ Vai faltar um pouco de dinheiro. Todo o esforço dos últimos dias foi para diminuir este déficit ¿ comentou ontem um integrante do comitê tucano.

Lula, Alckmin e os 20 candidatos a governador que disputaram o segundo turno das eleições em dez estados têm até às 19h de hoje para entregar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aos TRES (no caso dos governadores) a prestação de contas final, que inclui a lista dos doadores. A exemplo do que ocorreu em 2002, as grandes empreiteiras e os bancos responderão pelas maiores contribuições nas eleições de outubro.

Maior despesa foi com TV

Em 2002, o PT informou à Justiça eleitoral ter desembolsado cerca de R$47 milhões (em valores já corrigidos) para eleger Lula. Neste ano, segundo fontes do partido, o valor deve se aproximar de R$100 milhões, ultrapassando o teto estimado pelo partido no início da corrida eleitoral (R$89 milhões). No segundo turno, o PT corrigiu o limite de despesas para R$115 milhões, mas não deverá se aproximar deste valor.

A prestação de contas da reeleição de Lula será apresentada oficialmente hoje pelo presidente do PT e coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia, e pelo tesoureiro do comitê, José de Fillipi, que chegou ontem à noite a Brasília.

Já o PSDB informou ter gastado em torno de R$51 milhões na campanha derrotada de José Serra, em 2002. Este ano, segundo um dos coordenadores da campanha de Alckmin, Eduardo Jorge Caldas, as despesas não ultrapassarão o teto inicial de R$85 milhões.

¿ O partido elevou o teto para R$95 milhões para ter margem de segurança, mas não foi preciso ultrapassar a previsão inicial ¿ disse Eduardo Jorge.

O aumento de quase 100% dos gastos em relação a 2002 produziu a certeza, para cientistas políticos e especialistas em lei eleitoral, de que o caixa dois foi uma prática adotada em massa naquele ano. Principalmente porque as eleições deste ano foram as primeiras sob as regras criadas para reduzir as despesas eleitorais: a proibição de showmícios, outdoors e da distribuição de brindes e camisetas.

Neste ano, a maior parte dos gastos foi concentrada na impressão de material de propaganda e na produção dos programas de TV.

As prestações de contas revelam um abismo entre as campanhas de Lula e Alckmin e as de Cristovam Buarque (PDT) e Heloisa Helena. Os dois últimos declararam juntos gastos de menos de R$2 milhões, sendo R$1,7 milhão do pedetista e R$266 mil da senadora do PSOL.