Título: EM BUSCA DE NOME DE CONSENSO PARA A CÂMARA
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Fonte: O Globo, 28/11/2006, O País, p. 8

Temendo `efeito Severino¿, Lula quer que PT e aliados acertem nome para a presidência da Casa

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que o PT e os partidos aliados encontrem um candidato de consenso para disputar a presidência da Câmara. A posição do governo foi discutida ontem em reunião da cúpula petista com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que deixou clara a disposição de Lula de evitar um racha entre os aliados, a exemplo do que aconteceu em fevereiro do ano passado, quando Severino Cavalcanti (PP-PE) venceu a disputa, criando um ambiente de instabilidade.

A executiva do PT não lançará uma candidatura se não resultar de entendimento com os partidos aliados. O presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, disse que a unidade da base é uma obsessão do governo:

¿ A eleição (do presidente da Câmara) deve corresponder a essa política de coalizão mais ampla que estamos começando a implementar.

Para Garcia, a eleição de Severino deve servir de lição. Na ocasião, o PT lançou dois candidatos ¿ o oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), e o dissidente, Virgílio Guimarães (MG) ¿ e o governo foi surpreendido com a vitória de Severino.

¿ Que sirva de lição para que não tenhamos a repetição daquele episódio obscuro, complicado, que houve em 2005. Mas eu diria que, desse mal, já estamos livres porque, quando se tratou da sucessão do deputado Severino, a base do governo teve a sabedoria de se unificar e ter uma boa solução. Essa será a obsessão do governo ¿ disse.

Marco Aurélio afirmou que a pretensão do PT de ter um candidato é motivada pelo tamanho da sua bancada na Câmara, mas essa posição não é irredutível.

¿ Haverá negociações da bancada petista com outras bancadas para tentar encontrar uma solução comum, que poderá ser essa e poderá ser outra ¿ argumentou, ressalvando que a escolha de um não significará a derrota dos demais.

Mesmo que não lance oficialmente candidato, o PT vai apresentar aos aliados a candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP), na expectativa de que se torne consensual.

A vice-presidente do PT Maria do Rosário (RS) disse que o objetivo é vencer:

¿ Vamos conversar com os aliados, ver qual é o melhor e construir uma candidatura única da base.

Tarso distribuiu documento sobre coalizão aos petistas

Enquanto Lula segue na agenda de conversas com os aliados, Tarso cumpre a função de convencer o PT sobre a importância do governo de coalizão. Tarso distribuiu a dirigentes e militantes do partido documento explicando o que é um governo de coalizão e justificando sua necessidade. Na carta, obtida pelo GLOBO, admite que não é fácil formar um governo desse tipo, mas argumenta que é o modelo de gestão política mais transparente, com grandes acordos com partidos ¿ o mensalão surgiu das negociações pontuais do governo no Congresso.

O próprio Lula, na reunião de coordenação de governo, ontem, fez uma avaliação positiva da tentativa de formar um governo de coalizão e disse que pretende dedicar as próximas semanas às conversas com os partidos. Hoje, Lula se reúne com as direções do PDT e do PV. Na próxima semana, depois de voltar de uma viagem à África, terá encontros com os aliados de PCdoB, PSB e PRB.

Lula deve se reunir também com os tucanos Aécio Neves, governador reeleito de Minas, e José Serra, governador eleito de São Paulo, até o dia 15 de dezembro. Os encontros, segundo integrantes do Palácio do Planalto, serão individuais, dando continuidade às reuniões de Lula com governadores. Da oposição, o presidente já se reuniu com os governadores da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), reeleito, e do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PFL). A data dos encontros está sendo negociada por Tarso.

Na agenda extra-oficial do presidente está previsto para o dia 14 um encontro com Afif Domingos, que concorreu à vaga de São Paulo ao Senado pelo PFL e que será secretário de Trabalho do governo Serra.

Lula tem adotado um discurso de elogios a Aécio e Serra, mas os movimentos de aproximação têm sido vistos com desconfiança pela cúpula do PSDB. Isso porque Lula faz afagos mas pede para que os adversários deixem de fazer oposição até 2010 ¿ declaração considerada autoritária por muitos.

Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso manteve o tom crítico ao governo em entrevista à CNN Internacional, que transmite esta semana programas sobre o Brasil.

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