Título: RIO PODE ENFRENTAR SURTO DE DENGUE NO VERÃO
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 28/11/2006, Rio, p. 13

Levantamento do Ministério da Saúde aponta um alto índice de infestação em Ipanema, Leme e Copacabana

BRASÍLIA. O Rio é uma das 15 cidades brasileiras com risco de enfrentar um surto de dengue no verão, alertou ontem o Ministério da Saúde. A conclusão é resultado de levantamento em 154 municípios do país. A cidade de Itabuna, na Bahia, apresentou o maior índice de infestação: foram encontradas larvas do mosquito transmissor Aedes aegypti em 17 de cada cem domicílios inspecionados. No Estado do Rio, outro município também tem taxa elevada: Queimados, com 9. Na cidade do Rio, esse índice é de 6,3.

O Ministério da Saúde considera satisfatórios apenas índices abaixo de 1. Acima disso, a situação é de alerta, pois já há risco de transmissão em larga escala. Estão nessa situação 93 cidades. De acordo com a classificação do ministério, a situação de surto existe a partir da taxa de 4 domicílios com larvas para cada cem inspecionados.

A pesquisa divulgada ontem leva o nome de Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti, e permite detalhar a realidade de cada bairro visitado. No Rio, pelo menos 11 áreas correm o risco de surtos de dengue, algumas delas com taxas acima de Itabuna (BA), o município em maior situação de risco do país.

Situação é pior em Rocha Miranda

Em Rocha Miranda, o índice de infestação predial chegou a 23,8, o que significa que foram encontradas larvas do Aedes aegypti em quase 24 domicílios de cada cem inspecionados. Em Ipanema, a taxa foi de 17,6, enquanto Copacabana e Leme ficaram com 7,1. Os agentes de vigilância estiveram em mais de 1,3 milhão de lares no Rio. A pesquisa em todo o país foi feita entre a última semana de outubro e a primeira de novembro.

¿ Se não forem tomadas medidas adequadas, a tendência é esses índices se elevarem ¿ advertiu o secretário de Vigilância em Saúde, Fabiano Pimenta.

O secretário-executivo do ministério, Jarbas Barbosa, cobrou providências das prefeituras, em termos de limpeza pública, e da população, em cuidados simples como vedar caixas d'água e jogar areia em pratos com vasos de plantas:

¿ Cerca de 80% dos focos estão dentro dos domicílios ou no quintal e arredores. Em bairros de classe média e alta, 60% estão nos pratos dos vasos de plantas. Se a gente agir agora, os surtos não vão acontecer.

Os surtos de dengue ocorrem de janeiro a maio, por causa do clima quente e da época de chuvas. Dos quatro tipos de vírus, três já chegaram ao Brasil. Uma vez infectada, a pessoa fica imune àquele tipo de vírus. Mas, se contrair a doença pela segunda vez, por outro tipo de vírus, é maior o risco de dengue hemorrágica, que pode ser fatal.

A meta do ministério era levantar dados em 170 municípios, mas só 154 participaram da pesquisa. Todos eles têm histórico elevado de casos de dengue. Considerada a população dos 170 municípios (67,7 milhões de pessoas), menos da metade (31,2 milhões) vive em bairros com índice satisfatório, o que corresponde a 47% dos entrevistados; 26 milhões, ou 38%, vivem em bairros com índice de alerta; e 10,4 milhões (15%), em áreas com risco de surto. Barbosa disse que os índices poderão variar para mais ou para menos nas próximas semanas, de acordo com as providências que venham a ser tomadas pelas prefeituras.

Em relação ao ano passado, o índice de infestação do Rio caiu de 7,2 para 6,3. O outro município fluminense com risco de surto é Queimados, com 9. Os municípios de Nova Iguaçu, Nilópolis, Mesquita, Magé e Itaboraí apresentavam risco de surto no ano passado, mas passaram neste ano para a condição de alerta, à exceção de Nilópolis, cujo índice caiu para 0,9, considerado satisfatório. Até o fim do ano, o Ministério da Saúde deverá ter repassado R$772,8 milhões para estados e municípios combaterem a dengue. Segundo o ministério, cerca de 70% desses recursos são usados em ações de prevenção.