Título: RUIM AQUI, PIOR É NA ARGENTINA
Autor: Bruno Rosa
Fonte: O Globo, 28/11/2006, Economia, p. 25

Governo de Kirchner vai transferir este ano controle aéreo problemático para civis

BUENOS AIRES. Na Argentina, o controle dos vôos comerciais está nas mãos da Força Aérea, mas não por muito tempo. O governo de Néstor Kirchner anunciou recentemente a decisão de transferir o controle para uma administração civil até o fim do ano. A decisão, segundo especialistas, pode ajudar a resolver gravíssimos problemas que afetam o trabalho dos 900 controladores de vôo do país.

Segundo o ex-piloto e diretor do filme ¿Força Aérea Sociedade Anônima¿ ¿ que estreou este ano nos cinemas argentinos ¿, Enrique Piñeyro, os controladores de vôo argentinos ganham salários muito baixos, não têm treinamento suficiente, trabalham mais horas do que deveriam e sofrem forte pressão da Força Aérea. Em sua grande maioria, são militares que controlam entre 15 e 22 vôos diários, como mandam seus superiores.

A decisão de transferir o controle aéreo foi anunciada pouco depois da estréia do filme, mas o governo nega que a mudança seja resultado das denúncias contidas na obra.

¿ No Brasil, pode haver muitos problemas, sobretudo pela ingerência de militares no controle aéreo, que nós também sofremos. Mas na Argentina há coisas muito piores, como a falta de radares de última geração ¿ diz Piñeyro.

O país conta com apenas um radar, construído na década de 50. A falta de infra-estrutura complica o funcionamento de companhias aéreas como a Malaysia Airlines, com seus aviões de alta tecnologia, que, no entanto, não têm como se comunicar com a torre de controle do aeroporto internacional de Ezeiza, onde há apenas com um obsoleto sistema de rádio de alta freqüência. Para aterrissar, o piloto se comunica por celular GPS com os escritórios em Ezeiza, que fazem então a triangulação com a torre de controle.

¿ Os controladores argentinos não sabem falar inglês e seus salários são tão baixos (começam em 900 pesos, ou US$295) que eles são obrigados a ter pelo menos três empregos para sobreviver ¿ ressalta o ex-piloto.