Título: CRISE AÉREA FAZ BRASILEIRO DESISTIR DE VIAGENS
Autor: Bruno Rosa
Fonte: O Globo, 28/11/2006, Economia, p. 25

Sondagem feita pela Fundação Getulio Vargas com consumidores revela queda na preferência por avião

Com a crise no setor aéreo, o brasileiro já está refazendo os planos para suas férias de fim de ano, confirmou a Sondagem das Expectativas do Consumidor, divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O número de consumidores que disseram que pretendem viajar entre dezembro e janeiro caiu de 45,4% em novembro de 2005 para 38,1% este mês. Entre outubro e novembro, a preferência por aeronaves caiu de 45,2% (o maior patamar da série histórica da FGV, feita desde setembro do ano passado) para 35,7% (o pior nível de todo o levantamento). Em novembro de 2005, o índice era de 40,2%.

¿ Alguma coisa aconteceu, realmente, e causou grande impacto. Não se sai do melhor cenário para o pior cenário de um mês para o outro. O acidente com o avião da Gol, no fim de setembro, e a operação-padrão dos controladores de tráfego aéreo durante os dois últimos meses influenciaram no resultado. Certamente, a crise do setor, com os atrasos de vôos, levou a esse cenário ¿ disse Aloisio Campelo, coordenador de Sondagens Conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

Por causa dos atrasos constantes em vôos, aumentou o número de pessoas que pretendem viajar de carro neste fim de ano: o índice subiu de 31,9% para 37,1% nos dois últimos meses. No caso dos ônibus, o índice subiu de 9,5% para 10,3%. Segundo Campelo, a insegurança vivida pelo setor aéreo também elevou o número de pessoas que ainda não sabem se vão viajar (nem qual tipo de transporte vão utilizar) para 17,7% em novembro, contra 12,6% em outubro.

¿ A crise aérea afetou a decisão da viagem. Houve queda de 14,4%, em outubro, para 10,3%, em novembro, no número de pessoas que pretendem viajar para o exterior ¿ afirma Campelo.

O economista também revelou ontem uma desaceleração geral no Índice de Confiança do Consumidor em novembro. Depois de crescer 5% entre setembro e outubro, a taxa perdeu fôlego e subiu apenas 0,9% entre outubro e novembro, passando de 108,3 para 109,3 no período. A desaceleração ocorreu por causa da piora na avaliação da situação atual, cujo índice caiu de 105,8 para 103,7 nestes dois últimos meses. O Índice de Expectativas, entretanto, que mede a confiança nos próximos seis meses, apresentou melhora. Segundo a FGV, passou de 109,7 para 112,4 no período.

Para Campelo, a recuperação da economia é lenta, mas o consumidor percebe que existe algum tipo de crescimento. Por isso, a situação atual não apresentou avanço. Porém, destaca o economista, o brasileiro vê um horizonte positivo.

¿ O forte crescimento entre setembro e outubro está relacionado ao fim das eleições. A instabilidade política estava jogando uma nuvem escura sobre o consumidor e cobrindo sua avaliação. Porém, é preciso esperar o próximo mês para saber qual será a tendência desse indicador ¿ afirma Campelo.

Neste Natal, 32,4% dos consumidores gastarão menos

Com a inadimplência em níveis altos e a recuperação lenta no mercado de trabalho, Campelo ressalta que ainda não há uma euforia para os gastos de Natal, embora a expectativa de compras, em novembro, tenha registrado o maior nível desde o início da série: 86, contra 84,2 em outubro. Para o economista, o fator psicológico impacta diretamente o índice:

¿ Há um grande potencial de crescimento de compras para este Natal. Porém, parte dos consumidores está poupando, porque percebe que o crescimento da economia é lento.

Segundo o levantamento da FGV, 11,4% dos consumidores pretendem gastar mais neste Natal, contra 32,4% que planejam gastar menos. E mais: 56,2% querem manter o mesmo nível de gastos do Natal do ano passado. Entre os que vão comprar presentes em dezembro, a maioria (36,1%) gastará entre R$21 e R$50. A pesquisa ouviu consumidores em mais de dois mil domicílios, em sete capitais brasileiras, entre os dias 1º e 22 de novembro.