Título: BRASIL APREENSIVO COM OS RESULTADOS
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 28/11/2006, O Mundo, p. 29

Governo teme redução no lucro das petrolíferas, caso da Petrobras

BRASÍLIA. Mais afinado ideologicamente com o esquerdista Rafael Correa ¿ que está vencendo a eleição no Equador na disputa com o magnata conservador Alvaro Noboa ¿, o governo brasileiro acompanha o processo eleitoral naquele país com uma ponta de preocupação. Há dúvidas quanto ao futuro dos investimentos da Petrobras que, desde meados deste ano, vive um impasse com o presidente equatoriano, Alfredo Palacio. Existe a clara ameaça de redução dos lucros das petrolíferas estrangeiras que exploram as reservas equatorianas, via aumento da retenção obtida pelas empresas com a exportação de petróleo.

Estão em jogo, no caso da Petrobras, investimentos de pelo menos R$212 milhões. Pelas regras em vigor, a diferença entre o preço que está no contrato e o valor exportado do petróleo é compartilhada na proporção de 80% para a empresa exploradora e 20% para o governo equatoriano. Até recentemente, Palacio queria alterar essa fatia para 50%. Como a medida afeta os interesses dos Estados Unidos, a Casa Branca decidiu suspender as negociações com o Equador em torno de um acordo de livre comércio bilateral.

Segundo uma fonte do governo brasileiro, a possibilidade de a postura de Palacio ser mantida por Correa é grande. O candidato da esquerda tem perfil semelhante ao do presidente da Bolívia, Evo Morales, até mesmo pelas características dos dois países, com maioria indígena e com forte apelo nacionalista. Tomar das empresas estrangeiras uma fatia maior dos lucros na exploração das reservas de petróleo pode ser um caminho sem volta, que vai depender de mudanças na legislação pelo Congresso equatoriano.

AL pode ter mais força em negociação com os EUA

Simpatizante do venezuelano Hugo Chávez, o candidato da esquerda também deve engrossar o coro contra os EUA na América Latina, avalia uma fonte da área diplomática. Para o Brasil, há um lado bom, pois isso configuraria uma prioridade que nunca foi dada pelo Equador à América Latina. Contudo, o governo brasileiro já deixou claro que, embora as nações latino-americanas sejam a grande prioridade do governo Lula, as boas relações com os EUA são fundamentais.

Junto com Chávez, Morales e Correa, outro aliado em potencial do movimento nacionalista e antiamericano é Daniel Ortega, que venceu as eleições na Nicarágua. Apesar das preocupações, para o governo brasileiro é melhor que seja assim, em termos políticos, para que a região se torne mais forte na parte comercial.

¿ Certamente, com toda essa gente não dá para os EUA quererem ditar as regras ¿ destacou um diplomata brasileiro.