Título: UM NOVO CENÁRIO NO CONTINENTE
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 28/11/2006, O Mundo, p. 29

BUENOS AIRES. A vitória de Rafael Correa nas eleições presidenciais equatorianas ¿provocou uma importantíssima fissura no arco do Atlântico, formado por países como Colômbia, Chile e Peru, que têm clara tendência a favor dos EUA¿, avalia uma alta fonte do governo da Venezuela, um dos mais satisfeitos com a vitória.

A mudança de governo no Equador e a provável reeleição do presidente venezuelano, Hugo Chávez, no próximo domingo, darão novos contornos ao cenário político latino-americano, ampliando o leque de países que questionam publicamente a política externa da Casa Branca. Com a nova distribuição de forças no continente, afirmaram analistas políticos da Argentina, Chile e Bolívia, o delicado equilíbrio entre governos conservadores, social-democratas e populistas continuará sendo um grande desafio para os líderes da região.

¿ A eleição de Correa e a vantagem de Chávez antecipam um panorama no qual as diferentes visões de mundo que existem no continente deverão encontrar uma maneira de conviver pacificamente ¿ afirmou o analista boliviano Roger Cortez Cortado, professor da Universidade Maior de San Andrés.

Segundo ele, existem três tendências: governos conservadores em Colômbia e Peru; governos de orientação social-democrata em Brasil, Uruguai e Argentina; e governos com uma identificação nacional e popular, em Venezuela, Bolívia e Cuba.

¿ A meu ver, tanto Correa como Daniel Ortega, na Nicarágua, vão buscar um consenso entre os governos social-democratas e os mais radicais, como o caso da Venezuela.

Na visão da socióloga argentina Graciela Romer, diretora da empresa de consultoria Romer e Associados, a América Latina não vive uma onda esquerdista e sim o surgimento de governos esquerdistas com diferentes perfis e um elemento em comum: todos são uma resposta ao fracasso das políticas neoliberais da década de 90.

¿ A presidente do Chile, Michelle Bachelet, e Chávez são duas caras da mesma moeda. Ambos representam uma reação ao chamado Consenso de Washington, que na década passada provocou um aumento do endividamento dos países latino-americanos ¿ declarou.

O crescente sentimento antiamericano, assegurou ela, levou países como Venezuela, Bolívia, Chile e Argentina a elegerem presidentes de tendência esquerdista.

Além do equilíbrio regional, os governos latino-americanos também deverão continuar lidando com graves problemas internos que poderiam provocar novas crises de governabilidade. Para o analista chileno Ricardo Israel, diretor do Centro Internacional para a Qualidade da Democracia, ¿a questão central na América Latina é a estabilidade interna de cada país¿.