Título: PT tem quase um terço de doações após vitória
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 29/11/2006, O País, p. 3

Tesoureiro diz que cerca de R$25 milhões foram conseguidos em novembro, principalmente de grandes empresas

BRASÍLIA. Cerca de um terço dos recursos levantados para fechar as contas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi arrecadado depois de confirmada sua vitória nas urnas. Cerca de R$25 milhões foram doados em novembro, a maioria por grandes empresas, segundo revelou ontem o próprio tesoureiro da campanha, José de Fillipi Júnior. O PT ainda está à caça de contribuições para cobrir outros R$9,8 milhões, que correspondem à dívida da campanha, assumida pelo partido.

Já o candidato derrotado, o tucano Geraldo Alckmin, não conseguiu sensibilizar seus doadores e só captou, depois da eleição, cerca de 2% do total arrecadado em sua campanha: R$1,2 milhão do total de R$62 milhões.

Entre as empresas que socorreram o PT estão grandes empreiteiras, como a Camargo Corrêa, que deu R$2 milhões do total de R$3,5 milhões de suas contribuições nos dias 21 e 22 deste mês. A FSTP Brasil, do ramo de estaleiros, doou R$2 milhões sexta-feira passada. No mesmo dia, os donos da Grendene, Alexandre e Pedro Grendene, deram R$1 milhão cada.

Doações são diluídas na prestação genérica do partido

As doações 30 dias após as eleições são permitidas pela lei, embora sejam condenadas do ponto de vista ético por setores da sociedade. A legislação também permite que o partido assuma a dívida da campanha, já que a legenda é obrigada a prestar contas à Justiça eleitoral. Mas o artifício permite que as doações sejam diluídas na prestação de contas genérica do partido.

- Isso (doações até 30 dias após a eleição) sempre aconteceu. É assim no mundo todo e é mais normal do que se imagina - explicou ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Torquato Jardim.

No site do TSE, ontem, havia explicação que a lei prevê doações excepcionais após as eleições: "exclusivamente para quitação de despesas já contraídas e não pagas até aquela data, as quais deverão estar integralmente quitadas até a data da entrega da prestação de contas à Justiça Eleitoral".

"Nós não temos ONGs e nem fornecedores da Petrobras"

Mas a facilidade do presidente Lula de sensibilizar empresas e doadores para reforçar o caixa de sua campanha depois de garantir sua reeleição foi criticada pelos adversários.

- Não tenho dúvida de que esses recursos foram mobilizados com a pressão do governo federal. R$25 milhões é muito dinheiro em qualquer lugar no mundo - disse o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), que coordenou a campanha de Alckmin.

Vários dirigentes tucanos ironizaram a generosidade dos doadores com o presidente já conhecido.

- Se o Geraldo tivesse vencido a eleição e, como presidente, fosse o alvo de tanta generosidade, hoje o Lula é quem estaria com um rombo bem maior dos que os R$19 milhões em suas contas. Isso é um escândalo! - comentou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio (AM).

A frustração na arrecadação da campanha tucana no segundo turno, que culminou com o rombo de R$19,9 milhões, comprova que os grandes doadores, geralmente os que têm negócios com o governo federal, apostam sempre no candidato que tem chances reais de se eleger. Segundo os coordenadores da campanha de Alckmin, as dificuldades começaram logo depois da segunda pesquisa de intenção de votos, no segundo tuno, quando Lula assumiu a liderança de forma irreversível.

A partir do dia 10 de outubro as doações minguaram a níveis preocupantes. De acordo com Guerra, as doações em favor de Alckmin começaram a cair ao longo do segundo turno e foram muito pequenas depois da promulgação do resultado da eleição. Para o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, a oposição não dispõe do mesmo poder de sedução que o PT tem hoje:

- Nós não temos ONGs e nem fornecedores da Petrobras, aí fica difícil.