Título: Milionárias e ainda com rombo
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 29/11/2006, O País, p. 3

Campanhas de Lula e Alckmin deixaram dívidas de R$30 milhões, apesar do alto gasto

Na prestação de contas da campanha do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do candidato derrotado, Geraldo Alckmin (PSDB), as coordenações das candidaturas informaram que não conseguiram fechar suas contas e acumularam, juntas, um rombo de quase R$30 milhões, agravando ainda mais a crise financeira vivida pelos dois partidos. As duas campanhas custaram R$186 milhões, 53% a mais do que em 2002 (em valores corrigidos pela inflação).

O PSDB amargou o maior prejuízo, em valores oficiais. A campanha tucana gastou R$81,9 milhões, mas arrecadou apenas R$62 milhões. A executiva do partido se reuniu ontem à noite para discutir como saldar a dívida, mas o presidente da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), adiantou que negociará com os fornecedores o parcelamento das dívidas. O PSDB ainda deve cerca de R$2 milhões, herdados da campanha de José Serra à Presidência, em 2002.

Já a campanha de Lula deixou um rombo de R$9,8 milhões, referente ao pagamento de quatro empresas de São Paulo onde o partido encomendou quase todo o material gráfico. Em três meses, o comitê financeiro gastou R$104,3 milhões e arrecadou R$94,4 milhões. Mesmo enfrentando sua maior crise financeira, o PT assumiu a dívida, tornando-se devedor das gráficas. O partido tem débitos acumulados de mais de R$55 milhões, fruto de empréstimos contraídos aos bancos BMG e Rural.

PT diz que pagará até 30 de dezembro

O PT assumiu o compromisso de pagar os fornecedores até o dia 30 de dezembro. O partido também foi o maior doador da campanha de Lula, superando os bancos e empreiteiras.

- A dívida do PT está equacionada, vamos pagar com certeza - afirmou o presidente do partido, Marco Aurélio Garcia, que disse já ter reunido cerca de R$5 milhões.

PT e PSDB entregaram ontem a lista dos doadores de campanha, mas apenas a relação da campanha de Lula foi divulgada pelo TSE. Um em cada quatro reais arrecadados pela campanha petista veio de bancos e construtoras. As instituições financeiras deram ao petista R$11,6 milhões. Mesmo valor foi repassado pelas construtoras. O maior doador foi o grupo Cutrale, que doou R$4 milhões. O banco Itaú e o grupo Camargo Corrêa deram, cada um, R$3,5 milhões, o segundo e terceiro maiores doadores privados da campanha.

Tasso Jereissati garantiu estar tranqüilo. Nos últimos quatro anos, o PSDB recorreu ao fundo partidário para tentar saldar uma dívida de R$4 milhões dos R$32 milhões gastos na campanha de José Serra, em 2002. Segundo Tasso, já há um plano de parcelamento de 12 meses junto aos principais credores.

- Não vamos à falência por causa desse débito. Já fizemos um plano de equacionamento e vamos pedir prazo aos fornecedores. Algumas negociações estão bastante adiantadas. Mas estou tranqüilo. Não há nada que me tire o sono. Embora dê trabalho e aborrecimento, conseguiremos equacionar esse problema - assegurou Tasso.

O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), ex-coordenador da campanha tucana, também confirmou a intenção do partido de saldar sua dívida:

- Quando são legais, as campanhas no Brasil deixam dívidas. Preocupante é quando elas deixam saldo de campanha.

PSDB, com dívidas desde 2002, deve R$22 milhões

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio(AM), confia na capacidade de gerenciamento de Tasso Jereissati para resolver esse rombo.

- O Tasso é um ótimo administrador. Vamos fazer uma nova campanha de arrecadação, pedir parcelamento e ir atrás de novas doações possíveis.

Somando o que restou da dívida de campanha de Serra com a que Alckmin deixou, o déficit nas contas dos tucanos chega quase a R$22 milhões. O valor arrecadado pela campanha do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, foi de R$62.022.370,45. O gasto ocorrido foi de R$81.923.624,75. O rombo da campanha, que será assumido pelo partido, é de R$19.904.806,43.

A previsão de gasto registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a candidatura de Alckmin foi de R$95 milhões.

COLABORARAM Adriana Vasconcelos e Henrique Gomes Batista