Título: PETISTA PRESO NO CASO DOSSIÊ SE CALA SOBRE DINHEIRO
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Fonte: O Globo, 29/11/2006, O País, p. 10

'Já estou com a corda no pescoço. Não posso simplesmente puxar a corda', disse Gedimar, que preferiu acusar a PF

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O petista Gedimar Passos, preso em São Paulo com o R$1,7 milhão que seria usado para comprar um dossiê contra tucanos, depôs ontem na CPI dos Sanguessugas e se recusou a responder às perguntas sobre a origem do dinheiro e sobre telefonemas trocados com outros petistas envolvidos no escândalo.

- Eu já estou com a corda no pescoço. Não posso simplesmente puxar a corda - disse.

Gedimar limitou-se a dizer que foi contratado pela executiva do PT para analisar documentos. Afirmou que trabalhava para a campanha do presidente Lula e que Jorge Lorenzetti, então coordenador do departamento de inteligência do partido, disse que não pagaria pelos papéis oferecidos pelo empresário Luiz Antônio Vedoin. Ele admitiu, porém, que Vedoin pediu R$20 milhões pelos papéis.

Em vez de revelar a origem do dinheiro, ele preferiu dizer que foi vítima de tortura psicológica e de maus tratos desde que foi preso em São Paulo pela Polícia Federal.

A pedido do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Gedimar chegou a pôr a perna sobre a mesa da comissão para mostrar marcas que seriam seqüelas provocadas por uma noite numa cela com água até a altura da canela, no presídio Pascoal Gomes, em Mato Grosso.

- Fui levado para um apartamento por dois agentes do presídio com lanternas e fui colocado numa cela com água até a canela. Fiquei cheio de feridas no corpo - disse Gedimar.

CPI duvida de acusações e PF nega

Integrantes da CPI acharam inverossímeis as acusações de tortura, mas pediram a investigação do episódio. Solicitaram ainda a convocação dos delegados federais Edmilson Bruno, responsável pela prisão, e Diógenes Curado Filho, titular do inquérito, para dar explicações.

- A denúncia que ele fez, pelas circunstâncias, parecem inverossímeis - disse o sub-relator Fernando Gabeira (PV-RJ), responsável pela investigação do dossiê, que também pôs em dúvida a história contada por Gedimar, tanto sobre a origem o dinheiro quanto sobre a suposta tortura na PF.

Em nota, a PF de São Paulo desmentiu o petista:

- Não é crível que alguém com o perfil de advogado e ex-policial federal possa ter sido submetido a coação psicológica para revelar o nome de uma pessoa que supostamente estaria envolvida na compra do dossiê - disse a PF.

Ex-assessor de Mercadante também nega tudo

Já o delegado federal Diógenes Curado, de Cuiabá, que ouviu o depoimento de Gedimar no dia 19 de setembro, ficou irritado ao ser perguntado sobre as acusações do petista.

- Não vou comentar isso. Se ele tem essa acusação, por que não colocou no papel? Por favor, não me ligue para tratar deste assunto - disse Curado antes de desligar o telefone.

Apontado pela PF como o responsável por levar o dinheiro para Gedimar no hotel onde ele foi preso, Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), também não colaborou. Disse que se envolveu no caso atuando como dirigente do PT e cumprindo tarefa passada por Lorenzetti, e tentou negar envolvimento de Mercadante no caso.

Lacerda chegou a chorar quando contou que havia se desfiliado do PT. Na CPI, como havia feito na PF, Lacerda disse que apenas foi ao hotel levar roupas suas que emprestou a Gedimar. Ele admitiu ter feito contato com a revista "IstoÉ", mas disse que se tratava de uma matéria de interesse jornalístico.

Gedimar voltou a atacar o delegado Edmilson Bruno, responsável por sua prisão. Segundo ele, seu primeiro depoimento é mais fruto de ilações feitas pelo delegado do que de informações dadas por ele.

- Nunca vi fazerem aquilo. Fizeram porque eu trabalhava para o PT - disse Gedimar.