Título: DILMA DEFENDE NEGÓCIO DA GAMECORP
Autor:
Fonte: O Globo, 29/11/2006, O País, p. 10

Oposição cobra explicações sobre denúncia contra empresa de filho de Lula

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, defendeu ontem o negócio e disse que não há fato novo na denúncia de que a Gamecorp, empresa da qual é sócio o empresário Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente Lula, estaria dividindo com a Rede Bandeirantes o faturamento obtido, inclusive com verbas federais, em anúncios na Play TV (ex-Rede 21 e do Grupo Bandeirantes).

- Esta relação entre a Gamecorp e uma televisão não é algo inusitado no Brasil, faz parte de contratos comerciais pelos quais uma empresa, pessoa física ou igreja compra o espaço para veicular seus programas. Não é possível considerar estranho algo que tem uma certa regularidade nas práticas das televisões brasileiras. Trata-se de um processo perfeitamente legal - disse a ministra.

Ontem, Fábio Luiz voltou a ser alvo críticas da oposição por causa da denúncia, publicada pela "Folha de S.Paulo". Para o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), está na hora de o filho do presidente Lula se explicar publicamente:

- Evitamos falar do Lulinha durante a campanha, mas as coisas contra ele estão se avolumando. A cada dia temos uma nova notícia sobre a relação promíscua da empresa dele com o governo federal.

O líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), disse que a oposição tem de acompanhar de perto a investigação que o Ministério Público está fazendo sobre a atuação da Gamecorp:

- Trata-se da reincidência de uma suspeita de tráfico de influência familiar.

A denúncia foi recebida com irritação no Planalto. A Secom, subsecretaria responsável pela publicidade do governo e pela contratação de agências, disse, em nota, não ter ingerência sobre contratos assinados pelas emissoras nas quais anuncia.

A Gamecorp, segundo a reportagem, divide com o Grupo Bandeirantes o faturamento de anúncios na Play TV. A empresa de Fábio Luiz produz os programas. Os anúncios incluem órgãos como a Secretaria de Administração da Presidência, o Ministério da Saúde, o Banco do Brasil e a CEF. Na nota, a Secom diz que o governo compra espaço na Play TV para veiculação de publicidade pública, assim como faz em outras emissoras. "As redes em que o governo anuncia são empresas que, por direito, podem exercer sua autonomia firmando contratos com outros entes privados, sem qualquer ingerência do poder público", diz a Secom na nota. Segundo o texto, a publicidade da Secom, do Ministério da Saúde, do BB e da CEF na Play TV caiu 68% de 2005 para 2006.

A Rede Bandeirantes confirmou que a Play TV recebeu, desde o início do contrato entre as empresas, firmado em abril deste ano, R$225 mil em verbas publicitárias de órgãos governamentais. No contrato, a Play TV estima faturamento de R$5,2 milhões para 2006 e prevê, em cláusula específica, que o contrato pode ser rompido unilateralmente pela Rede 21 caso o faturamento em 2007 seja inferior a R$12,6 milhões. Entretanto, a Rede Bandeirantes informou que até o momento a Play TV faturou R$3,325 milhões e deve rever a meta do próximo ano.

O contrato entre a Gamecorp e a Rede 21 tornou-se público após decisão do juiz Régis Rodrigues Bonvicino, da 1ª Vara Cível do Fórum Regional de Pinheiros, em São Paulo, que indeferiu o pedido de confidencialidade do contrato num processo movido pela empresa contra a editora Abril e os jornalistas Diogo Mainardi, Alexandre Oltamari e Júlio César Barros.

A Bandeirantes respondeu ontem dizendo ser vítima de "uma campanha sórdida, mentirosa" há mais de três meses". "A verdade é simples e cristalina: trata-se de uma campanha concorrencial, movida pela editora Abril, sócia de um canal internacional de tevê, a MTV, diretamente atingida pela nova programação da Play TV - na verdade, uma agressão de um esquema internacional contra um grupo brasileiro", disse a Bandeirantes.