Título: Saída é limitar gastos
Autor: Regina Alvarez/Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 29/11/2006, Economia, p. 25

Especialistas em contas públicas concordam que é preciso ampliar os investimentos em infra-estrutura. Mas discordam da fórmula encontrada pelo governo: a melhor estratégia, afirmam os analistas, é conter os gastos correntes (despesas de pessoal, previdência, benefícios sociais e outros). Margarida Gutierrez, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ, diz que a ampliação do limite para o Projeto-Piloto de Investimentos (PPI) é apenas uma medida paliativa:

- É claro que os investimentos públicos precisam ser ampliados, pois geram efeitos positivos em termos de indução de investimento privado e de crescimento econômico. Mas não adianta recorrer a artifícios contábeis. O dilema fiscal passa, necessariamente, por alguma medida que limite o gasto público corrente. A reforma da Previdência é indispensável.

Margarida não acredita, porém, que a medida será mal recebida pelos mercados financeiros. Ela lembra que, com maior crescimento da economia (graças ao aumento do investimento público), a relação entre dívida e PIB pode não se deteriorar, mesmo com um menor esforço fiscal do governo. Margarida acrescenta, no entanto, que o mercado financeiro espera do governo uma sinalização de que vai pôr um freio nos gastos correntes.

Alexandre Cancherini, do Unibanco, não vê com bons olhos uma ampliação dos limites do PPI:

- É negativo não entregar a meta de superávit primário de 4,25% do PIB usando o Projeto-Piloto de Investimentos como justificativa.

Ele avalia que o PPI é legítimo. Mas, na sua opinião, não faz sentido recorrer a esse mecanismo diante do aumento das despesas correntes do governo. Se esses gastos fossem limitados, haveria espaço para investir mais em infra-estrutura, diz Cancherini.

Margarida Gutierrez Professora da UFRJ

Alexandre Cancherini Economista do Unibanco