Título: MORTES POR AIDS DOBRARÃO ATÉ 2030
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Fonte: O Globo, 29/11/2006, O Mundo / Ciência e Vida, p. 34

Estudo da OMS acrescenta que fumo matará uma em cada dez pessoas

GENEBRA. Nos próximos 25 anos, o número anual de mortes por Aids deve dobrar e o tabagismo será o responsável por um décimo de todos os óbitos registrados no mundo. A boa notícia é que os pobres viverão mais e melhor e morrerão menos de doenças infecciosas. De maneira geral, o risco de morrer antes de completar 5 anos cairá pela metade.

Os dados fazem parte de um abrangente estudo divulgado ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cujo objetivo era avaliar do que as pessoas vão adoecer e morrer em 2030. Segundo a análise, as mortes anuais por Aids saltarão de 2,8 milhões em 2002 para 6,5 milhões em 2030. Os óbitos relacionados ao tabagismo passarão de 5,4 milhões para 8,3 milhões.

As duas maiores causas mundiais de morte permanecerão as mesmas já registradas em 1996: ataque cardíaco e derrame. Seguidas de pneumonia, Aids e doenças pulmonares, como enfisema. E a depressão perderá apenas para a Aids na categoria de enfermidade debilitante.

- Não estamos dizendo que é exatamente isso que vai acontecer - frisa Colin Mathers, coordenador do estudo. - Mas os especialistas em saúde precisam ter, hoje, a melhor idéia possível do que está por vir para que estejam preparados.

A primeira previsão desse tipo feita pela OMS foi divulgada em 1996 e se revelou pouco precisa em alguns aspectos considerados importantes. Mais notavelmente, houve mais casos de Aids e menos de tuberculose do que o previsto. Mathers admite que o atual estudo tem o potencial de incorrer em erros semelhantes, mas garante que ele é necessário para que os especialistas desenvolvam cenários e prevenção.

América Latina: violência é a sexta causa de morte

Para fazer a melhor previsão possível, o grupo incluiu no novo estudo muito mais estatísticas sobre mortes e doenças do que havia disponível em 1996. Eles então aplicaram um modelo que leva em conta como as populações devem crescer e envelhecer nas próximas décadas e também a evolução de tendências como obesidade e tabagismo.

O principal fator de alteração dos padrões das doenças, diz Mathers, é a prosperidade. Em geral, à medida que os países enriquecem, eles se tornam capazes de adotar medidas de higiene e vacinação capazes de reduzir muito as chamadas doenças da pobreza, principalmente as infecciosas.

- As pessoas passam a morrer de problemas cardíacos aos 70 anos, e não de diarréia aos 3 - sustenta.

Por isso, também foram levadas em conta as previsões de crescimento econômico do Banco Mundial. O resultado final é otimista em relação à África, região para a qual é previsto um crescimento de 2% ao ano, em oposição ao 0,5% dos anos 90.

As principais causas de morte na América Latina, segundo o estudo, continuarão sendo as enfermidades cardiovasculares, mas o percentual de óbitos por esses problemas deve passar dos atuais 11% para 13% em 2030. Chama atenção nos números latino-americanos, no entanto, o fato de a violência ser a sexta principal causa de morte (o que equivale a 4% dos óbitos).

- A violência não aparece entre as dez primeiras causas de morte em nenhuma outra região do mundo - afirma Mathers.