Título: MÃO-DE-FERRO NAS FINANÇAS ESTADUAIS EM 2007
Autor: Henrique Gomes Batista e Martha Beck
Fonte: O Globo, 30/11/2006, Rio, p. 27

Futuro secretário da Fazenda, Joaquim Levy é conhecido por austeridade e inflexibilidade política na condução da economia

BRASÍLIA. Joaquim Vieira Ferreira Levy, que assumirá a secretaria da Fazenda no governo de Sérgio Cabral, deverá manter seu estilo e impor rigor, austeridade e inflexibilidade política na condução da economia do Estado do Rio. Para esse economista de 46 anos, considerado workaholic ¿ ele chega a responder a e-mails de trabalho em plena madrugada ¿ a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que limita gastos e endividamento, é sagrada, o que indica que deverá ter mão-de-ferro antes de autorizar despesas.

Levy trabalhou por oito anos no FMI

Ortodoxo, o novo xerife do cofre do Rio circula com facilidade pelos corredores de Brasília e de organismos internacionais: secretário do Tesouro nos três primeiros anos do governo Lula e com experiência em outros cargos na Fazenda e no Planejamento, Levy estava há sete meses em Washington como vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ele também foi, por oito anos, funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI), além de ter uma passagem pelo Banco Central Europeu.

Doutorado pela Universidade de Chicago ¿ berço dos economistas que têm a austeridade fiscal como religião ¿ o carioca Levy sempre defendeu o controle dos recursos públicos para garantir a sustentabilidade das contas, de forma a conseguir, no futuro, a capacidade de investimento estatal.

É, porém, defensor de fortes medidas de gestão e foi um dos artífices da criação da Super-Receita (que reúne os órgãos arrecadadores da União e do INSS). ¿A Previdência é um navio cheio de cracas e precisamos raspá-las¿, disse, certa vez, em referência ao excesso de burocracia no órgão, que leva à inoperância e às fraudes no INSS.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem respeito especial por Levy, graças à sua atuação na recomposição da dívida pública, que ficou mais sólida, barata e menos vulnerável externamente. Em março, ao receber o presidente do BID, Luiz Moreno, para acertar da ida de Levy para o banco, Lula brincou: ¿Moreno, será que não poderia adiar para o fim do ano a ida de Levy? É que ele está marcando gols por aqui¿.

Bem-humorado, irônico e vaidoso, Levy gosta de atuar com autonomia. É inflexível politicamente ¿ chegou a bloquear, no governo Lula, a transferência de alguns recursos para a prefeitura de São Paulo, em plena gestão da petista Marta Suplicy, por problemas do município na prestação de contas de uso dos recursos do programa Reluz.

Em 2005, desentendimento com Rodrigo Maia

Um dos mais notórios casos de sua falta de traquejo político ocorreu no fim de 2005, na Câmara dos Deputados, durante o depoimento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Enquanto o líder do PFL na Casa, Rodrigo Maia (RJ), fazia perguntas, notou que Levy ria.

¿ O senhor está achando graça no que eu estou dizendo, doutor Levy? ¿ perguntou Maia, furioso.

Como Levy não disse nada, o deputado cobrou providências ao presidente da comissão, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que repreendeu o então secretário do Tesouro. O problema é que ele não estava rindo de Maia: Levy discordava das observações do pefelista, mas o sorriso é uma mania do ex-secretário.

Para tentar contornar a situação, Palocci pediu desculpas a Maia . ¿Caso ele tenha se expressado de maneira inadequada, eu peço desculpas¿, disse à época. Levy nunca pediu desculpas.