Título: Quem mais doou para Lula foram as empreiteiras
Autor: Adauri Antunes, Ricardo Galhardo e Plinio Teodoro
Fonte: O Globo, 30/11/2006, O País, p. 3

Setor da construção contribuiu com R$13,8 milhões; já os bancos deram R$11,8 milhões para campanha petista

BRASÍLIA. As empreiteiras, empresas do setor de construção civil, foram as maiores doadoras da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo dados disponíveis na prestação de contas do candidato e do PT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as construtoras contribuíram com R$13,8 milhões. Em segundo lugar ficou o setor financeiro, com contribuições de R$11, 8 milhões para o candidato petista.

O candidato derrotado, Geraldo Alckmin, do PSDB, também recebeu doações milionárias dos dois setores. Mas os bancos foram seus maiores doadores: R$10,9 milhões, contra R$4,8 milhões das empreiteiras. É uma tradição nas campanhas eleitorais do Brasil que esses dois ramos da economia apareçam no topo das contribuições para candidatos, especialmente nas candidaturas majoritárias ¿ presidente, senador e governador.

Contribuições para Alckmin foram mais diversificadas

Mas nas eleições de 2002, os empresários da construção civil não foram tão generosos nas contribuições oficiais, que somaram R$4,5 milhões em valores atualizados. Há quatro anos, o então candidato tucano, José Serra, recebeu do setor R$2 milhões (R$2,8 milhões corrigido pelo IPCA) e Lula R$1,3 milhão (R$1,7 milhão corrigido pelo IPCA).

Na eleição deste ano, além de R$13,8 milhões para Lula, o setor doou R$4,8 milhões para o tucano Alckmin, somando o total de R$18,6 milhões somente para as campanhas dos dois principais presidenciáveis.

Os bancos lideraram a lista em 2002, contribuindo com R$20,3 milhões (em valores atualizados), para as campanhas dos dois candidatos que disputaram o segundo turno, Lula e o tucano José Serra ¿ sendo que o tucano recebeu R$13,1 milhões e o petista R$6,2 milhões.

Nestas eleições, os bancos entraram de novo com a maior parcela juntando as contribuições dadas aos dois principais candidatos: R$21,7 milhões. Desta vez fizeram doações equivalentes para Lula e Geraldo Alckmin. Favorito na disputa para o segundo mandato, Lula recebeu R$11,8 milhões e Alckmin R$10,9 milhões.

Itaú fez doações idênticas para tucano e petista

Vários bancos, como Itaú, Unibanco e ABN Amro, doaram a mesma quantia para os dois candidatos. Em agosto deste ano, Olavo Setúbal, presidente da holding que controla o grupo Itaú, disse, em entrevista à ¿Folha de S. Paulo¿, que ¿Lula ou Alckmin é a mesma coisa; os dois são conservadores¿. O banco deu R$3,5 milhões para cada um.

Os doadores nestas eleições não diferem muito em relação aos do último pleito presidencial. Depois de bancos e empreiteiras, as empresas de papel e celulose, petroquímica e mineração continuam sendo as que fazem um maior volume de doações, na sequência. Nestas eleições, entretanto, houve um aumento do número de empresas que fizeram doações legais para as duas principais candidaturas.

Esse fenômeno foi mais sentido na campanha de Alckmin, que teve doações de mais setores que Lula. Entre os doadores do tucano aparecem editoras, escritórios de advocacia, agências de publicidade, fabricantes de eletrodomésticos e lojas de varejo em geral. Já os doadores de Lula são mais concentrados: um em cada quatro reais doados ao petista saíram ou das instituições financeiras, ou das construturas.

Esse fato, de acordo com políticos e juristas, é um indício de que muitas empresas abandonaram a contribuição ¿por fora¿ e que, provavelmente, o caixa dois nestas eleições reduziu-se em relação aos pleitos anteriores.