Título: UNIÃO PAGOU R$3,5 BI A DOADORES
Autor: Adauri Antunes, Ricardo Galhardo e Plinio Teodoro
Fonte: O Globo, 30/11/2006, O País, p. 3

Fornecedores do governo contribuíram com campanha petista

BRASÍLIA. Levantamento do site Contas Abertas, especializado no acompanhamento de contas públicas, mostra que fornecedores ou prestadores de serviços para o governo federal fizeram doações para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na análise dos R$76,7 milhões doados ao PT e para o Comitê Financeiro de Lula (considerando só doações acima de R$250 mil), esses doadores movimentaram R$3,5 bilhões da União em 2006, segundo dados de pagamentos lançados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).

¿ É uma constatação óbvia. É uma relação promíscua em que se percebe que os grandes fornecedores do governo não fazem essas doações maciças por amor à política, mas sim por interesse nos seus negócios ¿ observa o cientista político Gil Castelo Branco, responsável pelo Contas Abertas.

O Grupo Camargo Corrêa, por exemplo, doou a Lula R$3,5 milhões, e, pelo Siafi, recebeu ou movimentou R$4,2 milhões da União em 2006, sem contar o que ainda tem a receber de contratos em execução. A Companhia de Petróleo Ipiranga doou R$700 mil e recebeu R$18,3 milhões.

A construtora Andrade Gutierrez desembolsou R$1,5 milhão e recebeu R$10,5 milhões; a OAS, R$1 milhão e R$6,4 milhões, respectivamente. O maior volume de recursos da União foi movimentado pela Embraer, que doou R$1,3 milhão e recebeu R$82 milhões em 2006, segundo o Siafi.

Das 64 empresas que fizeram doações acima de R$250 mil, 19 têm movimentações no Siafi em 2006. Não estão incluídos valores repassados por estatais ou empresas de economia mista, como a Petrobras. Entre os maiores doadores ao Comitê Financeiro do PT está a Sucocítrico Cutrale, R$4 milhões, mas o Siafi mostra apenas R$379,97 recebidos da União.

Segundo Castelo Branco, não há impedimento legal para que empresas que trabalham para o governo doem recursos a candidatos, até mesmo para a campanha do presidente da República. Mas ressalta que não é uma relação sadia.

¿ Não há a garantia de que o financiamento público vá eliminar totalmente as doações privadas e a perpetuação dessa relação promíscua ¿ avalia o cientista político.