Título: Campanhas, somadas, arrecadaram R$1,3 bi
Autor: Adauri Antunes, Ricardo Galhardo e Plinio Teodoro
Fonte: O Globo, 30/11/2006, O País, p. 3

Custo é de R$10,32 por eleitor, 50% a mais do que seria com o financiamento público, que tramita no Congresso

BRASÍLIA.Somadas as doações para candidatos de todo o país, as campanhas a presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais arrecadaram pelo menos R$1,324 bilhão. O montante arrecadado pelos políticos superou o valor do projeto de financiamento público, em tramitação no Congresso, que prevê gasto de R$882 milhões nas eleições. O cálculo leva em consideração o custo previsto na proposta de R$7 por pessoa num universo de 126 milhões de eleitores.

A campanha seria mais barata caso estivesse em vigor o financiamento público eleitoral, embora, neste caso, os recursos viessem do Estado, e não de pessoas e empresas do setor privado.

Se for levado em consideração o que foi arrecadado, a campanha eleitoral teria custado R$10,32 por eleitor, o que significa um custo 50% mais caro do que seria com o financiamento público. As eleições foram mais caras, como era de se esperar, nos maiores estados, como São Paulo (R$240 milhões), Minas Gerais (R$120 milhões) e Rio de Janeiro (R$84,629 milhões).

Dos dez candidatos que disputaram o segundo turno, em geral os que mais gastaram foram os que conseguiram se eleger. O goiano Alcides Rodrigues (PP) teve a campanha mais cara: arrecadou R$15,8 milhões para se eleger governador de Goiás, contra uma arrecadação e gasto de R$6,3 milhões do adversário Maguito Vilela (PMDB).

Em segundo lugar ¿ considerando a prestação de contas dos que disputaram segundo turno ¿ está o governador reeleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que arrecadou R$12,9 milhões e ganhou a disputa com uma diferença de apenas 10 mil votos do senador Osmar Dias (PDT), que investiu os R$7,1 milhões que arrecadou.

Mas nem sempre as campanhas mais caras foram as vitoriosas. Foi o caso do governador de Pernambuco Mendonça Filho (PFL), o terceiro do ranking dos maiores gastadores, que arrecadou R$10,8 milhões, mas não conseguiu vencer Eduardo Campos (PSB), que se elegeu gastando R$6,3 milhões.

No Maranhão também Jackson Lago (PDT) triunfou não só sobre o poder da oligarquia Sarney como sobre o poderio econômico. O pedetista gastou a metade do que custou a campanha da adversária Roseana Sarney (PFL) e conseguiu se eleger. Arrecadou e gastou R$3,3 milhões contra os R$6,3 milhões gastos por Roseana.

O quarto colocado na lista das campanhas milionárias do segundo turno é o governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que gastou três vezes mais que a adversária derrotada Denise Frossard (PPS). Cabral arrecadou e gastou R$9,7 milhões e Denise apenas R$2,3 milhões.

Construtoras e bancos são maiores doadores

Os maiores doadores e financiadores das campanhas de governadores são grandes grupos econômicos, em sua maioria construtoras e empresas de engenharia. O maior doador para Alcides Rodrigues, em Goiás, foi o grupo Egesa Engenharia S/A, com R$1 milhão, seguido pelas empresas CCB Construtora Central do Brasil com R$585 mil, Warre Engenharia e Saneamento Ltda com R$500 mil, e Central Engenharia com R$250 mil.

O Banco BMG S/A, envolvido no escândalo do valerioduto, não investiu um centavo nas campanhas presidenciais, mas investiu pesado nas campanhas de governadores no primeiro e segundo turno. Pulverizou nada menos que R$2,9 milhões em doações para campanhas de deputados, senadores e governadores. No segundo turno , por exemplo, os campeões de gastos foram brindados com doações do BMG, que deu R$350 mil para Cabral, R$300 mil para Alcides Rodrigues, R$170 mil para Requião, e R$70 mil para Cássio Cunha Lima (PSDB), governador reeleito da Paraíba que arrecadou R$6,5 milhões.