Título: Presos vivem em endereços nobres do Rio
Autor: Antônio Werneck
Fonte: O Globo, 30/11/2006, Rio, p. 17

Advogado, filho de empresário e um universitário entre os detidos

Dos 12 presos ontem durante a Operação Tsunami, deflagrada pela Polícia Federal, cinco moram em prédios de classe média alta e classe média na região da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes. Um dos principais envolvidos no suposto esquema, e que está foragido, Francisco Barroso Júnior, também vive na Barra, no condomínio Sunset Drive, na orla. Segundo a polícia, ele teria fugido para São Paulo. Francisco é filho de empresários paulistas, donos de uma rede de restaurantes de culinária francesa.

O perfil da quadrilha não é diferente da maioria dos traficantes de ecstasy que vêm sendo presos no Rio, nos últimos dois anos. Muitos deles têm nível superior, não têm antecedentes criminais e moram em áreas nobres da cidade.

Entre os presos de ontem, dois ¿ o advogado Carlos Henrique Moscoso e Luís Marcelo Ciorciari Alonso, ambos de 29 anos ¿ moram com os pais em condomínios da orla da Barra: Carlos Henrique, no Atlântico Sul; e Luís Marcelo, no Barra Summer Dream.

Avó se desespera com a prisão do neto

Acusado pela polícia de comprar drogas da quadrilha para revender nas festas, Júlio Cesar Marinho Lage, o DJ Julinho, de 25 anos, mora com os pais e a irmã de 16 anos nos fundos da casa dos avós maternos, na Rua Tibagi, cercada por favelas, em Bangu.

¿ Até a faculdade de direito que ele está fazendo sou eu que pago. Ele está no último ano da Faculdade Castelo Branco ¿ afirmou, chorando, a avó de Julinho, Joana Marinho Jordão, que é funcionária pública municipal aposentada.

Na casa de Joana estavam ontem à tarde a namorada, o avô, a irmã e um tio de Julinho, mas só a avó quis se manifestar. Ela contou que nunca notou nada que pudesse indicar o envolvimento de Julinho com a venda de drogas:

¿ Só via o meu neto sair para ir à faculdade e para trabalhar em festas. Os policiais bateram na minha casa e eu fui chamar o meu neto. O meu neto saiu descalço e sem camisa, sem falar nada. Os policiais reviraram o computador e a casa dele e não encontraram nada ¿ disse Joana.

Joana é mãe de outra pessoa que estaria envolvida no esquema: Lilia Rejane Marinho Jordão Januário, dona de um salão de beleza no shopping Barra Square, foi presa em seu apartamento, de cerca de 120 metros quadrados, no Recreio. Também mora na região, em um apartamento alugado, o acusado Raimundo Pimentel Correia, preso na tarde de ontem em Poços de Caldas, Minas Gerais.

¿ Ele saiu de casa ontem (anteontem) e não voltou mais. Morava há poucos meses no prédio e conversava pouco ¿ contou o porteiro Severino Veríssimo Araújo.

Considerado pela polícia como um dos financiadores do esquema, Alberto Morais Neto, o Lagarto, mora com os pais em um condomínio de classe média, na Rua Jornalista Henrique Cordeiro, na Barra. A família nada quis declarar sobre a prisão do filho.

Acusados têm salão de beleza e loja de eletrônica

Um dos principais articuladores da quadrilha e citado pela Polícia Federal como namorado de Lilia e de Vivian Ribeiro Abdalla (esta, moradora de Copacabana), Jorge Luiz Dias Piraciaba, mora em Jacarepaguá e tem uma loja de eletrônica no Barra Square. A loja fica em frente ao salão de beleza de Lilia. Os dois estabelecimentos foram fechados após operação de busca e apreensão feita por agentes federais, na manhã de ontem.

¿ A Lilia sempre foi muito simpática e tratou muito bem suas funcionárias. É difícil acreditar que ela esteja envolvida em algum tipo de crime ¿ comentou uma vendedora, que freqüenta o salão.

Com 50 anos, Jorge é o mais velho integrante da suposta quadrilha. Ele foi preso junto com o filho Daniel Rego Barros Piraciaba, de 24 anos, em Jacarepaguá.

O primeiro a ser preso pela polícia, o paraibano Yuri Kulesza, mora com pais em João Pessoa. Ele foi preso, em 19 de setembro passado, no Aeroporto Internacional do Rio. No dia seguinte, colegas do jovem criaram uma página para ele no site de relacionamentos Orkut. Lá foram deixados 12 recados, a maioria de solidariedade. Um deles traz um alerta para outros jovens: ¿a única diferença de Yuri para muitos de nós é que ele escolheu o caminho errado e perdurou nele. Antes de discriminá-lo, olhem para vocês mesmos, avaliem-se e vejam o que podem mudar enquanto ainda existe oportunidade para isso.¿

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