Título: JUROS E CRESCIMENTO EM BAIXA
Autor: Patricia Duarte e Mariza Louven
Fonte: O Globo, 30/11/2006, Economia, p. 31

Dividido, BC reduz a taxa básica pela 12ª vez seguida, agora para 13,25% ao ano

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Também pela primeira vez, o Copom fecha um ano inteiro em que todas as reuniões resultaram em redução da Selic. A decisão, no entanto, não foi unânime, o que não acontecia desde março passado. Dos oito diretores que votaram ontem, cinco foram favoráveis ao corte de 0,5 ponto percentual e três queriam redução menor, de 0,25. Com isso, a expectativa é que o BC continue reduzindo a Selic, mas em ritmo mais lento. O economista-chefe do ABN Amro Asset, Hugo Penteado, argumenta que os cortes vêm se repetindo há muito tempo ¿ desde setembro do ano passado ¿ e, por isso, espera-se que diminuam daqui para frente. A maioria dos analistas prevê agora cortes de 0,25 ponto até o fim de 2007.

As sucessivas quedas de juros não satisfazem economistas, empresários e trabalhadores. A maior queixa é que os juros poderiam estar em patamar bem mais baixo, já que a inflação, cuja meta anual orienta a política monetária, está sob controle. Segundo a pesquisa semanal Focus do BC, os especialistas apostam que o IPCA feche 2006 a 3,15% e 2007 a 4,1%, bem abaixo do centro da meta do governo para o período, de 4,5%.

Os juros em baixa, dizem os especialistas, expõem as demais fragilidades do país, que impedem o crescimento econômico mais vigoroso, acima de 5%, ambicionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O problema mais citado é a questão fiscal, tida como primordial para alavancar investimentos, com redução e melhor direcionamento dos gastos públicos. A carga tributária também influencia, bem como a burocracia imposta ao setor produtivo.

¿ Fazer negócio no Brasil ainda é muito difícil. Com o quadro macroeconômico estável, a sociedade está percebendo que o buraco é mais embaixo ¿ afirmou o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz.

Selic em queda expõe fragilidades

A economia reage lentamente às reduções de juros do último ano.

¿ Agora é que os cortes estão começando a fazer efeito, mas não a ponto de elevar a expansão da economia para 5% ¿ afirmou Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC, hoje na Confederação Nacional do Comércio (CNC), que prevê expansão mais acelerada em outubro.

João Sicsú, do Grupo de Conjuntura do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acha que, com os juros atuais, o crescimento seguirá medíocre, ¿como foi o do ano passado, o deste ano e o dos últimos 20 anos¿.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, afirmou que a redução de 0,5 ponto percentual ¿é o mínimo admissível¿ e que a taxa de juro real deixa o país em desvantagem frente a outras economias emergentes. A CNI aproveitou para pedir a redução do gasto público e da carga tributária. Em comunicado, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) considerou positiva a decisão do Copom, mas alertou para a necessidade de se adotar medidas para reduzir o gasto público e retirar os entraves ao investimento privado.

Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que a redução de 0,5 ponto vai impedir que o país cresça mais de 3,1% este ano e 3,8% em 2007, conforme previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgada esta semana.

O presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, considerou a queda insuficiente para aliviar o peso que recai sobre as micro e pequenas empresas e afirmou que a decisão vai significar crescimento menor em 2006:

¿ O comércio do Rio vai fechar com alta em torno de 2%, em relação a 2005, um crescimento bom mas que não chega nem perto do que poderia ter sido.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também criticou a decisão do Copom, classificando-a de nefasta e afirmando que os trabalhadores foram, de novo, frustrados: ¿O governo precisa urgentemente mudar os rumos da economia e implantar uma política direcionada para o crescimento do país¿.

Colaborou Ana Cecília Santos