Título: CULTURA CHEGA A 10% DA RIQUEZA GERADA NO PAÍS, DIZ IBGE
Autor: Alessandra Duarte
Fonte: O Globo, 30/11/2006, Economia, p. 35

Famílias gastam 7,9% do orçamento com o setor, que emprega 3,7 milhões de trabalhadores formais e informais

O radialista Josias Corrêa já tem DVD em casa, mas estava atrás de outro na terça-feira, quando aproveitou para comprar também um gravador de MP3. Corrêa está impulsionando a cultura e nem sabe ¿ pelo menos segundo uma pesquisa divulgada ontem pelo IBGE, que inclui a aquisição de eletrodomésticos de entretenimento nas atividades econômicas culturais. Chamada de Sistema de Informações e Indicadores Culturais, a pesquisa é a primeira do IBGE desse porte sobre cultura e mostra que o setor representa 6% (cerca de R$39,5 bilhões) da riqueza gerada no país. Esse valor sobe para 10% (R$66,5 bilhões) incluindo telecomunicações, área que o órgão considera ligada à cultura, por atividades como internet.

A pesquisa é fruto de um convênio entre o Ministério da Cultura e o IBGE, que prevê a medição do Produto Interno Bruto (PIB) da cultura do país. Esse número, porém, só deverá sair em cerca de três anos, pois, para o cálculo do PIB, são necessários outros dados, como volume de exportações da área.

O estudo, que tem 2003 como ano-base, mostra que a cultura fica em quarto lugar nos gastos das famílias, atrás de habitação, alimentação e transporte. São R$115,50 por mês, ou 7,9% do total, incluindo telefonia. Sem telefonia, o gasto cai para R$64,53 (4,4% do total) e fica em sexto lugar. As famílias brancas são as que mais gastam (R$146 mensais), mas as negras gastam mais de seu orçamento com o setor: 19,1%, contra 13,8% das brancas.

Segundo o estudo, a cultura representa 6,2% das empresas formais (incluindo estatais e instituições sem fins lucrativos), que têm receita líquida de R$156 bilhões. O setor emprega cerca de 1,4 milhão de trabalhadores formais, mas o número sobe para 3,7 milhões se forem considerados os informais. Serviços são a maior fatia em cultura: 59% das empresas.

No consumo de cultura no país ¿ da compra de brinquedos ao aluguel de salão de festas e ao pesque-pague ¿, a telefonia fica com 44,1%. Em segundo lugar, vem a compra de eletrodomésticos como TVs (14,9%). Ações de cultura e lazer propriamente ditas, como cinema e teatro, ficam em terceiro (12%). Mas o item ¿festas¿, incluído nesta última categoria, tem a maior parte: 6,1%.

¿ Meu filho comprou um DVD há seis meses. Agora quero o meu ¿ disse o radialista Corrêa, ele próprio representante do perfil de trabalhador da cultura: homem, com 11 anos ou mais de estudo.

Apesar da escolaridade, esse profissional tem salário médio de R$704,93, enquanto a média nacional de outras áreas é de R$705,08.

Na administração pública, a União é a que menos gasta com cultura (12,6%), excluídas estatais e renúncia fiscal. Os municípios são os que mais gastam (55%), e os estados respondem por 32,4%. A União também é a que menos gasta de seu próprio orçamento com cultura: 0,03%, contra 1% nos municípios e 0,36% nos estados. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, presente ao anúncio da pesquisa, admite que sua pasta, desde gestões anteriores, depende de investimentos de estatais e renúncia fiscal:

¿ Isso é que precisa ser mudado. Você tem áreas de patrimônio, por exemplo, que não são convidativas para o investimento privado, e aí o ministério precisa atuar diretamente. Por isso a necessidade de maior orçamento próprio.

No gasto dos estados com cultura em 2003, São Paulo fica em primeiro (R$210,8 milhões), seguido de Bahia (R$79 milhões) e Rio (R$61,4 milhões). Rondônia fica em último, com gasto de R$248 mil.

¿ A maior parcela municipal é mais para suprir a ausência de outras esferas de governo do que por vontade dos municípios ¿ diz François Bremaeker, do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam).