Título: A briga na Câmara e a coalizão
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 01/12/2006, O GLOBO, p. 2

Para setores do PT, os erros parecem ter existido para serem repetidos. Vale para o que se passa nas preliminares da disputa pela presidência da Câmara, com a proliferação de candidaturas governistas concorrentes envenenando o ambiente. O que não ficou claro é se o presidente Lula também está propenso a repetir seu erro de 2005 ¿ o de deixar a disputa correr solta ¿ ou está disposto a atuar para evitar o desastre.

É muito bonito dizer que o Executivo não deve interferir em eleições no Legislativo. Mas, quando o governante se alheia da disputa, paga o pato. As condições políticas se deterioram e ele ainda é acusado de ter sido omisso. O governo não pode é violar a independência entre os poderes, subjugando os partidos e aliciando parlamentares com seus instrumentos de força ou convencimento. Mas articular, harmonizar interesses e disciplinar sua coalizão (no caso de Lula, em construção) é tarefa da boa governabilidade.

Na Câmara, até as copeiras sabem que Aldo Rebelo é o preferido de Lula para continuar comandando a Casa. Ele tem apoios no PFL e no PSDB, que já conhecem seu estilo e confiam em seus critérios. Mas se Lula acha mesmo que a reeleição de Aldo vai lhe garantir mais tranqüilidade na Câmara no segundo mandato, precisa dizer isso primeiro ao PT, onde há um forte movimento pela candidatura do líder Arlindo Chinaglia. Estes petistas chegam a dizer que o PT é maior que Lula ¿ apesar dos números cuspidos pelas urnas ¿ ou que Lula passa, mas o partido fica. Há petistas achando que a disputa é temerária, mas os defensores da reconquista do posto são maioria. Na quarta-feira próxima, o PMDB também vai discutir o lançamento de um nome seu, mas com esses Lula tem até mais chances de se entender. Eles ainda estão esperando pelos postos no segundo mandato. Embora o presidente já tenha feito o PT aceitar seu governo de coalizão, ele parece estar evitando enfrentar o partido na questão da Câmara. Deu umas estocadas em Chinaglia na reunião do diretório nacional, no fim de semana, mas isso não resolve. O ministro Tarso Genro também está se mantendo fora do assunto. Talvez ele e Lula estejam evitando contrariar os setores que apóiam Chinaglia (nos quais estaria incluído o ex-ministro José Dirceu) porque vão ter, em breve, um outro enfrentamento interno, na eleição da nova direção. Seria um equívoco dar prioridades à questão partidária sobre a institucional. Talvez, também, Lula esteja deixando a disputa avançar mais antes de arbitrá-la, explicitando sua real preferência, que até pode ser por Chinaglia ou outro petista, e fazendo com todos se unam em torno dela. Mas, se demorar muito, o caldo pode azedar e comprometer todo o seu empenho em favor da coalizão.