Título: Partido aprova coalizão e quer até 6 pastas
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 01/12/2006, O País, p. 3

Proposta de apoio a Lula conseguiu unir o PMDB, com apenas dois votos contrários

BRASÍLIA. O conselho político do PMDB aprovou ontem, por aclamação, a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de formar um governo de coalizão. A decisão foi tomada depois de duas horas de discursos, alguns com ressalvas e críticas ao primeiro mandato de Lula, e sem as tradicionais brigas, comuns nos encontros do PMDB. Apenas o senador eleito Jarbas Vasconcelos (PE), que previu que a coesão do partido em torno de Lula durará apenas um semestre, e o presidente do partido em Pernambuco, Marcus Cunha, manifestaram-se contra a coalizão.

O presidente do PMDB no Acre, deputado João Correia, se absteve. Os demais 42 conselheiros presentes ¿ de um total de 60 ¿ aprovaram a proposta, sendo que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) anunciou que se colocará numa posição de independência, mas não votou contra. A expectativa da cúpula do PMDB é que a coalizão garantirá ao partido entre quatro e seis ministérios, além de participação na coordenação política do governo.

¿ O PMDB decidiu apoiar o governo de coalizão em cima de uma agenda mínima para o país. O Ministério é atribuição do presidente. Ele é quem vai definir os cargos e escolher, verificando os quadros do partido ¿ disse o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP).

¿Coalizão é com o presidente da República, não com o PT¿

Deixaram de comparecer 15 conselheiros, entre eles oito favoráveis à aliança, como os governadores Sérgio Cabral (RJ), Roberto Requião (RJ), Eduardo Braga (AM), Paulo Hartung (ES) e Marcelo Miranda (TO). Mas, apesar do clima pacífico da reunião, o governo Lula não foi poupado e os senadores José Sarney (AP) e Pedro Simon (RS) fizeram críticas à conduta política e ética do PT no governo.

¿ Sou um daqueles que acham que o governo Fernando Henrique foi muito ruim.Vibrei com a eleição do presidente Lula. Mas seu governo deixou muito a desejar no campo da ética, da seriedade e da dignidade ¿ afirmou Pedro Simon, declarando-se independente e lembrando que manteve esta posição nos quatro anos de Lula e nos oito anos do governo tucano.

Simon disse que confia na chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e no ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, mas que não acredita naquele grupo de petistas que quer esconder tudo, deixar tudo como está e fazer tudo de novo. Um dos principais aliados do presidente Lula, o senador José Sarney também bateu na conduta política do PT durante o primeiro mandato, que resultou no escândalo do mensalão.

¿ Nós (Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros) evitamos que o PMDB fosse vítima dessa canibalização que atingiu outras legendas e que apareceram depois como aqueles coisas erradas ¿ disse Sarney, ressalvando: ¿ O PMDB tem responsabilidade institucional com a estabilidade política do país. Nós estamos fazendo uma coalizão com o presidente da República e não com o PT.

Apesar da quase unanimidade do conselho, Jarbas Vasconcelos não está otimista com os entendimentos entre o partido e o governo Lula. Ele afirmou que seu isolamento é temporário e que esse amplo apoio ao governo não vai durar muito. Jarbas diz que muitos estão apoiando por causa de cargos e como não há cargo para todos, acredita que em breve terá companhia na posição de independência:

¿ Não torço pelo malogro ou estrangulamento do governo, mas o governo está terminando um mandato medíocre. Essa coesão toda, a permanência desse grupão com o governo dura um semestre.

Peemedebistas como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o deputado Geddel Vieira Lima (BA), deixaram claro que a participação no governo de coalizão não implica a renúncia do PMDB a direitos adquiridos nas urnas, como o de comandar a Câmara e o Senado, já que fez as maiores bancadas nas duas Casas.

Rigotto vai coordenar discussão sobre tributária

Terminada a reunião do conselho político, na qual foram criadas sete comissões para detalhar a agenda mínima de governo, Temer telefonou para o ministro Tarso Genro para informá-lo da decisão. O ministro disse que estava satisfeito e que o presidente voltaria a se reunir com o PMDB para aprofundar a agenda mínima e acertar a presença do partido no Conselho Político do governo.

O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, foi escolhido para coordenar o grupo do partido que vai discutir com o governo uma proposta de reforma tributária. E o governador eleito de Santa Catarina, Luiz Henrique, que fez campanha para o tucano Geraldo Alckmin, afirmou que a coalizão só existirá de fato se o governo Lula mudar o critério para o pagamento da dívida dos Estados com a União, estabelecer um cronograma pelo qual a receita da CPMF seja compartilhada com os Estados e passe a ressarcir em 50% as perdas dos Estados exportadores, como prevê a Lei Kandir.