Título: Ciro ataca economia e PMDB
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 01/12/2006, O País, p. 3

Ex-ministro, cotado para novo governo, critica até Lula pela aliança com o `elefante branco¿

Oex-ministro e deputado eleito Ciro Gomes (PSB-CE), cotado para um ministério, rompeu ontem o silêncio que vinha mantendo desde as eleições e fez duras críticas à política econômica, ao PMDB, à Petrobras e também ao presidente, por fazer aliança com os peemedebistas. Ao mesmo tempo que reafirmou seu apoio ao Planalto, Ciro disse que tem reservas ao modelo econômico. Ele atacou a política econômica ao se referir à expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB):

¿ O Brasil vai crescer este ano mediocremente. Não dá 3%. Com o baixo crescimento, o país estaria batendo as portas no nariz dos jovens que estão chegando ao mercado de trabalho. Nós precisamos crescer 5% ao ano, qualquer que seja o custo ¿ disse em entrevista à rádio CBN/AM do Povo.

Ciro afirmou que agora está falando mais livremente sobre as questões econômicas porque, antes, não encontrava apoio:

¿ Eu me sentia muito só. O governo melhorou muito com a Dilma (Rousseff, chefe da Casa Civil) e com o Guido (Mantega, ministro da Fazenda) ¿ disse, evitando polemizar sobre o que pensava do ex-ministro Antonio Palocci.

Para Ciro, foi o baixo crescimento do país que impediu Lula de ganhar a reeleição no primeiro turno e não o envolvimento de petistas com a compra de um dossiê contra tucanos, a ¿patuscada dos aprendizes de mafiosos do PT de São Paulo¿:

¿ Perdemos a eleição no primeiro turno pelos sete, oito pontos que perdemos na economia, que está arrebentada. O Rio Grande do Sul votou contra porque a economia está arrebentada. (O povo) quer saber de dossiê? Está lá o câmbio ferrando a soja, está a questão de duas secas mal enfrentadas, indústria de calçado fechando, aí quer que vote no governo? Agora é inverter a lógica. Vamos procurar crescer 6%.

Ciro vê com reservas a política de coalizão que o presidente Lula está montando para ter uma maioria mais sólida no Congresso, especialmente o acordo com o PMDB:

¿ O PMDB é um elefante branco que não vai junto para canto nenhum porque aprendeu a se impor pelo tamanho, mas não consegue convergir para canto algum.

¿Não vou dizer dessa água não beberei¿

Candidato derrotado duas vezes à Presidência (1994 e 1998), ele admitiu voltar a disputar o cargo em 2010:

¿ Não vou dizer dessa água não beberei.

Ciro ainda defendeu o Ceará na disputa que o estado vem travando com a Petrobras pelo fornecimento de gás para a usina siderúrgica no estado (Ceará Steel) e acusou a empresa de oferecer ¿resistências burocráticas hostis ao povo brasileiro¿. A siderúrgica foi incluída no programa de reeleição do presidente Lula e citada diversas vezes como uma de suas prioridades para o Nordeste, ao lado da Transnordestina e da refinaria de Pernambuco. Segundo ele, se a atitude da Petrobrás inviabilizar o projeto, será uma desmoralização para o presidente.

¿ O presidente Lula sabe que não pode ser feito de palhaço no Brasil e no Ceará ¿ disse.

A Petrobras não reconhece o contrato assinado no ano passado com o governo cearense e as três empresas privadas sócias da siderúrgica, no qual teria se comprometido com o fornecimento de gás por 20 anos. A indústria está em fase de implantação. A Petrobras argumenta que o estado não cumpriu contrapartidas. Ciro, que representou o presidente Lula no ato de lançamento da siderúrgica ano passado, acusou a Petrobras de mentir. A estatal quer, na verdade, disse, renegociar o preço do gás definido no contrato em U$2,44 dólares por milhão de BTU.

¿ Agora a discussão já mudou de patamar. A discussão, que era uma molecagem de dizer que o passo para trás da Petrobras se deveu a alguma falha do estado do Ceará, é pura e simples mentira, é um pretexto sujo e intolerável, isso já foi dito com essas e piores palavras a eles. Como cearense, não admito que a Petrobras bote areia nesse empreendimento, que nos custou imensos sacrifícios viabilizar e que, sozinho, representa um salto de 5% no PIB do estado do Ceará.

Ciro acusa a Petrobras de usar a crise com a Bolívia como pretexto para manter ¿a lógica da sua exorbitante lucratividade¿.

¿ Não me sai da cabeça que talvez a Petrobras tenha escolhido a hora para fazer esse gesto pouco sério, para ficar numa palavra bem preparada, porque não quero mais usar linguagem chula. Agora a gente trata com clareza e a Petrobras, em função da crise com a Bolívia e porque vê o Brasil a partir do seu caixa, onde está exorbitante a lucratividade. (Cobra caro) e faz carta de influência para distribuição de dinheiro para patrocínios culturais, para verbas publicitárias imorais, picaretagem e essas coisas todas que a Petrobras vai ter que dar um chega-pra-lá. Tenho dito isso com muita clareza nas conversas internas do governo.

Procurada, a assessoria de imprensa da Petrobras não se manifestou.