Título: Partidos e ministério disputam cargo no Sebrae
Autor: Regina Alvarez e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/12/2006, O País, p. 4

Okamotto quer ficar, mas Planalto espera que ele deixe o órgão, que tem orçamento anual de R$840 milhões

BRASÍLIA. Envolvido no escândalo do mensalão, o atual presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, opera nos bastidores do governo, junto ao PT e a líderes empresariais, para permanecer no cargo por mais um mandato de dois anos, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefira que ele saia. A eleição da nova diretoria executiva do Sebrae está prevista para 13 de dezembro e o desfecho dessa disputa ainda é imprevisível. Lula gostaria de uma saída ¿sem traumas¿ e o desafio que se coloca atualmente no governo é conseguir um outro posto, no Brasil ou no exterior, para o ex-tesoureiro do PT e amigo do presidente da República.

Okamotto pagou dívida de R$29,4 mil de Lula

A disputa pelo cargo de presidente do Sebrae não é trivial. Mobilizou o PT, o PMDB e o Ministério do Desenvolvimento, já que o ministro da pasta é responsável pela aprovação do orçamento da entidade. Com orçamento anual de R$840 milhões este ano e salário de R$24 mil mensais para o presidente, além de outras vantagens, o cargo tem peso semelhante a de alguns ministérios, segundo a visão dos políticos.

Paulo Okamotto enfrentou grande desgaste no auge das CPIs que apuravam o escândalo do mensalão, depois de dizer ter pagado do próprio bolso um empréstimo de R$29,4 mil para quitar uma dívida de Lula com o PT. Também teria pagado outra dívida de R$26 mil da filha do presidente, Lurian.

No Palácio do Planalto, a avaliação é que Okamotto deveria se afastar do governo, preservando o presidente da República. Havia uma expectativa, inclusive, de que o próprio Okamotto tomaria a iniciativa de não concorrer à reeleição para a presidência do Sebrae, em um gesto semelhante ao de Luiz Gushiken, que entregou o cargo ao presidente Lula e já se desligou da chefia do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência (NAE). Gushiken também foi envolvido no escândalo do mensalão quando estava à frente da Secretaria de Comunicação de Governo e Assuntos Estratégicos (Secom).

O outro candidato à presidência do Sebrae, que conta com o apoio do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, é o atual presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Juan Quirós. Ele tem bom trânsito junto ao empresariado e conta com a simpatia de membros do Conselho Deliberativo do Sebrae, que vai escolher a diretoria executiva, mas Okamotto também está angariando apoios no Conselho e sua estratégia é considerada bem sucedida por fontes ligadas à indústria.

Embora a escolha da diretoria do Sebrae seja feita através de uma eleição e a entidade tenha gestão compartilhada entre governo e representantes do empresariado, a palavra final será de Lula, como tem sido de todos os presidentes da República. Lula, que sempre teve muita dificuldade para demitir seus amigos, não pretende deixar Okamotto em uma situação desconfortável.

Furlan quer indicar presidente do BNDES e de agências

Os próximos dias serão decisivos na busca de um posto para acomodar o atual presidente do Sebrae. Nos bastidores do governo, a lealdade de Okamotto com Lula é reconhecida, mas ele ¿estaria muito queimado¿, segundo avaliação de interlocutores do presidente da República. Por outro lado, existe uma parcela do PT que quer continuar brigando pelo cargo de presidente do Sebrae, na luta para garantir espaços no governo no próximo mandato de Lula.

Enquanto isso, o ministro Luiz Fernando Furlan gostaria de permanecer no atual cargo, na segunda gestão de Lula, mas com uma pasta fortalecida. Assim, pleiteia nos bastidores do governo a indicação dos presidentes do BNDES, do Sebrae e das agências ligadas ao seu ministério: a Apex-Brasil e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi).