Título: Sem-terra enfrentam ruralistas e invadem porto
Autor: Ana Paula de Carvalho e Arnaldo Ferreira
Fonte: O Globo, 01/12/2006, O País, p. 14

Confronto no Paraná deixa feridos; em Maceió, movimentos provocam prejuízo e só saem depois de Incra ceder

CURITIBA e MACEIÓ. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e produtores rurais do Paraná entraram em choque ontem, na BR-277, na região de Cascavel, no Oeste do Estado, quando cerca de três mil sem-terra foram surpreendidos pelo bloqueio da rodovia por tratores e caminhões, organizado por 150 ruralistas da Sociedade Rural Oeste (SRO). Os sem-terra desceram dos 22 ônibus em que viajavam e seguiram a pé para furar o bloqueio.

O tráfego parou por pelo menos duas horas. Com pedaços de madeira e pedras na mão, os dois grupos se enfrentaram a socos e pontapés, deixando sete feridos entre os sem-terra. O confronto, que teve início às 15h, só foi controlado no fim da tarde, quando o trânsito foi liberado e a Polícia Militar conseguiu dispersar o grupo.

Segundo os sem-terra, os ruralistas jogaram cavalos sobre eles e ameaçaram atirar. O MST alegou que o ato era pacífico, para encerrar a 1ª Jornada de Educação na Reforma Agrária na Fazenda Syngenta, desapropriada pelo governo do Paraná. Os fazendeiros disseram que houve só empurrões e defenderam a manifestação, mostrando indignação com o anúncio de invasões de terra em Cascavel.

¿ Bloqueamos as estradas em protesto, porque dizem que vão invadir mais fazendas e não vamos permitir ¿ desafiou o presidente da Sociedade Rural do Oeste (SRO), Alessandro Meneghel.

Segundo ele, o Paraná não tem terras para reforma agrária e as propriedades desapropriadas viraram ¿favelas rurais¿.

¿ Esses que se dizem movimentos sociais fazem sigla para tomar dinheiro do governo federal. O governo destinou mais de R$60 bilhões para movimentos que nada produziram, enquanto nós, proprietários, geramos 43% do PIB e damos alimentos para a população ¿ reclamou.

Meneghel não descartou o uso da força nos protestos.

¿ Daqui para a frente, não vamos aceitar mais nada. Se o governo não cumprir a reintegração de posse, ela será feita através dos produtores, usando até a força, se não deixarem as propriedades.

No Porto de Maceió, prejuízo estimado é de R$143 mil

Em Maceió, cinco mil manifestantes ligados a três grupos de sem-terra invadiram o porto, causando prejuízo estimado pela administração portuária de US$65 mil (cerca de R$143 mil). Participaram militantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra), que comandou a invasão à Câmara dos Deputados, do MTL (Movimento Terra Trabalho e Liberdade) e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Mais de 200 caminhões de açúcar foram impedidos de descarregar 200 mil toneladas do produto, e o porto ficou paralisado. O objetivo da invasão foi agilizar a reforma agrária no Nordeste, disse o coordenador estadual do MLST, Marcos Antônio da Silva, o Marrom.

¿ Há três anos o Incra promete assentar três mil famílias. Até agora não assentou nem 500 famílias. Cansamos de ocupar estradas.Vamos causar prejuízos ao agronegócio.

Por volta das 15h, o presidente nacional do Incra, Rolf Hackbart, e o ouvidor agrário nacional, Gersino José da Silva, enviaram correspondência ao Incra de Alagoas e aos líderes dos movimentos comprometendo-se a desapropriar cinco mil hectares de terras da usina falida Agrisa. Por volta das 18h, os sem-terra começaram a desocupar o porto.