Título: Lula: Agora tenho de pensar para a frente
Autor: Cássia Almeida e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 01/12/2006, Economia, p. 31

Presidente diz que não pensa mais nos resultados de 2006 e espera crescimento de 1,5% até o fim do ano

ABUJA (Nigéria) e BRASÍLIA. A estratégia do governo diante do lento crescimento no terceiro trimestre, acentuando a perspectiva de que a expansão dificilmente chegará a 3% este ano, foi tentar deslocar as atenções para o futuro. Da África, onde participa da Cúpula África-América do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que já não está interessado no desempenho da economia este ano. Já a sua equipe ressaltou que os dados preliminares do quarto trimestre demonstram aceleração da atividade produtiva na virada para 2007.

¿ O dado concreto é que não estou mais pensando em 2006. Eu estou pensando em 2007, 2008, 2009 e 2010. Agora tenho de pensar para frente ¿ disse Lula.

O presidente afirmou que vai esperar o resultado do quarto trimestre e estimou que pode haver um crescimento da economia da ordem de 1,5% ¿ ou um pouco mais ¿ entre outubro e dezembro. Ele afirmou que o governo está tomando todas as medidas para que o país tenha um crescimento mais vigoroso:

¿ Para que possa atender mais rapidamente às necessidades de geração de empregos e de receita ¿ completou.

A equipe econômica, apesar de reconhecer que o desempenho do PIB no terceiro trimestre foi decepcionante, se esforçou para convencer que a economia brasileira já entrou numa rota de expansão mais vigorosa. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, argumentou que um sinal disso foi o crescimento dos investimentos entre julho e setembro passados (de 2,5%, segundo o IBGE). Em sua avaliação, o recuo sistemático dos juros é um estímulo extra à expansão deste indicador.

Ministro ressalta pacote de medidas ainda em estudo

Na quarta-feira, o Banco Central (BC) cortou a Selic em 0,5 ponto percentual, que passou a 13,25% ao ano, o menor patamar da História.

¿ Nós já temos informações seguras de que, a partir de outubro, está havendo aquecimento da economia como um todo. Este ano não vai ser brilhante em termos de crescimento, mas vamos passar de 2006 para 2007 como uma economia em aquecimento ¿ afirmou Mantega.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, manteve a projeção de crescimento de 3,2% este ano e lembrou que o governo tem preparado um pacote de medidas para impulsionar a economia e resolver o problema da oferta (capacidade de fabricação das indústrias perto do limite, o que requer novos investimentos):

¿ É um resultado modesto, aquém do que nós gostaríamos, mas de fato já aconteceu. O presidente Lula tem cobrado da sua equipe medidas para trazer crescimento ¿ disse.

Também otimista, o secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, confirmou que as expectativas para as vendas de fim de ano e a demanda da economia sugerem que os três últimos meses de 2006 serão mais fortes em termos de crescimento. O secretário admitiu que o espaço para a queda de juros no país em 2007 é menor. Mesmo assim, disse que o Brasil continua a ter uma situação de inflação sob controle, o que dá condições para que a Selic continue caindo e, conseqüentemente, abre espaço para que o país alcance nos próximos anos variação anual do PIB na casa dos 5%, como quer Lula.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse que o PIB do ano já aconteceu, com a maior parte da produção para as vendas no fim do ano concluída. O objetivo, agora, é não deixar que os resultados deste ano contaminem 2007:

¿ Nosso foco, nesse momento, é fazer com que a velocidade do crescimento brasileiro em 2007 comece o primeiro trimestre com aceleração ¿ afirmou Furlan.

De acordo com Furlan, a projeção do PIB para o ano que vem depende da conclusão das medidas que o presidente Lula está coordenando para estimular os investimentos e a produção. Para o ministro, estas medidas poderão incrementar em, pelo menos, dois pontos percentuais as projeções de crescimento, desde que a resposta do setor privado seja rápida.

(*) Enviado especial